Mostrando postagens com marcador Joesley. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Joesley. Mostrar todas as postagens

sábado, 2 de dezembro de 2017

O FIM DO ANO ESTÁ AÍ. O QUE ESPERAR DE 2018?



DEZEMBRO FINDA. NA TARDE LINDA DESPONTAM RISOS DE ALEGRIA, VOZES QUE CANTAM, FLORES QUE ENCANTAM, FESTAS DE SONHO E DE POESIA.

Bons tempos aqueles em que a aproximação do Réveillon nos enchia o coração de esperanças. Hoje, para muitos de nós o Natal não passa de mera exploração comercial e passagem de ano, de uma simples virada de página do calendário.

No apagar das luzes de 2016 ― um ano especialmente conturbado ―, esperava-se que 2017 trouxesse a tão sonhada recuperação da economia. A instabilidade produzida pelo impeachment da anta vermelha havia sido superada, o país tinha tudo para voltar a crescer e a “Delação do Fim do Mundo” (lembram dela?) colocaria na cadeia uma notável penca de corruptos.

O fato de Temer ter sido citados nas delações da Odebrecht (43 vezes somente na confissão do ex-diretor de relações institucionais Cláudio Melo Filho) não melhorava em nada sua minguada popularidade. Rejeitado pelos simpatizantes da petralhada ― que o viam como traidor e golpista ― e pelos que comemoraram o final do governo petista ― por ter sido vice de Dilma durante seus dois mandatos e presidido o maior partido da base aliada do governo petista por 15 anos ―, o peemedebista acalentava o sonho de entrar para a história como “o cara que recolocou o Brasil nos trilhos do crescimento. Aí vieram a público as gravações de sua conversa nada republicana com o carniceiro de luxo Joesley Batista, a mala de dinheiro de Rocha Loures, as manobras escandalosas para sepultar as denúncias apresentadas pelo MPF sob o comando de Rodrigo Janot, e por aí segue a malsinada procissão. E o resto é história recente.  

Temer assumiu a presidência porque a Constituição não nos dava outra opção para penabundar a imprestável gerentona de araque e pôr fim aos desmandos lulopetistas. Sabe-se agora, porém, que melhor seria tê-lo expelido junto com a mulher sapiens. Claro que não se esperavam milagres de um presidente sem respaldo popular, que prometeu um ministério de notáveis e entregou um notável bando de apaniguados políticos corruptos. Demais disso, tirar o país do buraco envolvia dificuldades que foram potencializadas pela oposição ferrenha dos defensores do “quanto pior, melhor”, pela a sombra ameaçadora da Lava-Jato, pelas “sutilezas” do presidencialismo de coalização (ou de cooptação, como bem definiu o ex-presidente FHC) e pelas frequentes rusgas entre os 3 poderes desta república de bananas. Mas até aí morreu o Neves.

Um rápido retrospecto do ano que termina em menos de 1 mês dá conta de que governo Temer foi uma decepção. Houve ganhos, é verdade. A economia deu sinais de recuperação, pífios, mas reais. Os índices de desemprego, se não caíram expressivamente, ao menos deixaram de aumentar. A inflação baixou dos dois dígitos para algo em torno de 4% a.a., embora não seja bem isso que a gente nota quando faz compras no supermercado, abastece o carro e paga as contas de energia, água, gás e que tais. Mas a Selic despencou e reformas importantes ― como a do Teto dos Gastos e da Legislação Trabalhista ― foram aprovadas ou avançaram algumas casas no tabuleiro do Congresso. Demais disso, é injusto culpar o vampiro do Planalto pelas mazelas geradas e paridas durante 13 anos, 5 meses e 12 dias de jugo lulopetista ― como fazem a incorrigível militância vermelha e outros desinformados de plantão.

Olhando a coisa pelo melhor ângulo, em 2016 tínhamos uma presidente encurralada no Palácio do Planalto, sem autoridade, sem nexo e sem respeito; um presidente da Câmara descrito como homem de poderes sobrenaturais, que ocupava uma posição essencial para os destinos da nação; um vice decorativo, mas que, por suas celebradas habilidades no manuseio de parlamentares e políticos em geral, era visto como uma ponte que poderia conduzir Dilma à salvação. Isso sem mencionar um ex-presidente da República que posava de gênio da política, sempre prestes a “virar o jogo” mediante conchavos milagrosos ― e que tentaria nomear a si mesmo ministro da Casa Civil para escapar da Lava-Jato ―, além de um cangaceiro presidindo o Senado e atuando como marechal de campo na guerra para manter no comando a presidanta, seu abjeto antecessor e seu espúrio partido.

Em questão de meses, Dilma se tornou uma ex-presidente em processo de inscrição no arquivo morto da política brasileira; o então poderosíssimo presidente da Câmara foi devidamente encarcerado, o Cangaceiro das Alagoas perdeu e recuperou o cargo, virou inimigo figadal da militância vermelha e está a caminho do cemitério político; o gênio da política que ia salvar a anta vermelha, o PT e os aliados ― além de si mesmo, naturalmente ― coleciona processos penais e já foi condenado a 9 anos e meio de prisão em um deles, mas que recorre a uma manobra espúria travestida de candidatura à presidência para não se tornar, também ele, hóspede do sistema prisional tupiniquim.

Por essas e outras, tudo indicava que 2017 seria o ano da redenção. Só que não foi. Mas vamos deixar para concluir esse raciocínio na próxima postagem, que a de hoje já está de bom tamanho. Até lá.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

MAIS MOTIVOS PARA SE TER ORGULHO DESTA REPÚBLICA DE BANANAS


O mais recente imbróglio envolvendo a delação da JBS foi causado pela conversa nada edificante que Joesley Batista e seu assecla Ricardo Saud mantiveram e gravaram “inadvertidamente”, e que acabou indo parar “acidentalmente” nas mãos do MPF.

O bate-papo descontraído, regado a uísque e ao som de Axé Music, durou longas quatro horas e suscitou quatro ministros do Supremo, dois governadores de Estado, dois senadores e dois ex-ministros. Sobrou até para a ex-presidanta e seu esbirro, José Eduardo Cardozo, entre outros que, como de praxe, negam qualquer participação e juram de pés juntos que são honestos, probos e acima de qualquer suspeita, ontem, hoje, amanhã e até o fim dos dias.

Na primeira parte do áudio, Joesley e Saud falam sobre como se aproximar de Rodrigo Janot por meio do então procurador Marcelo Miller e sobre a condição de não serem presos após fecharem os acordos de delação. Mas o “x” da questão ― que pode levar à revisão dos benefícios concedidos por Janot e avalizados pelo ministro Fachin a essa dupla de escroques ― foram os momentos em que os interlocutores sugerem que Miller ― que deixou a assessoria de Janot para atuar em escritório de advocacia que defende a JBS ― favorecia o grupo quando ainda integrava o MPF.

Em nota, os delatores boquirrotos pediram “sinceras desculpas” aos ministros do STF e ao PGR pelas citações indevidas, mas só depois que Janot determinou a abertura de investigação para apurar a omissão de informações nas negociações do acordo de colaboração.

A suspensão do acordo para apurar os fatos era de se espera, mas é lamentável que oportunistas de plantão se aproveitem do episódio para tentar (mais uma vez) barrar a Lava-Jato em seu esforço de reprimir e punir os esquemas de corrupção que conspurcam a política brasileira.

A defesa de Temer, por exemplo, tem se valido do ocorrido para desqualificar as acusações da PGR contra o presidente. A anulação de provas consistentes, se ocorrer, será um desserviço ao combate à corrupção, até porque o próprio acordo de colaboração tem cláusulas específicas para o caso: as de números 26 e 27 enquadram o que houve entre os motivos para a rescisão do acordo pela PGR, mas com a manutenção de todas as provas e depoimentos, além do pagamento de multas.

O senador Romero Jucá, integrante do grupo palaciano e alvo de inquéritos e processos no STF, diz que o ocorrido “projeta dúvidas sobre várias delações” ― notadamente a de Sérgio Machado, da Transpetro, em que ele, Jucá, é um dos protagonistas. E a maracutaia assume proporções pluripartidárias, já que, no Congresso, se alguém gritar “pega ladrão”, não ficam nem os faxineiros.

Omissões e manobras de Joesley podem ― e devem ― levar Janot a rever o acordo e estabelecer algum tipo de punição, mas contraria a sensatez e a própria lógica que os termos da delação ― que fazem dela um ato jurídico perfeito, assinado por meio de um rito sancionado pelo Supremo ― sejam descumpridos e que provas concretas desapareçam, como as cenas de Rodrigo Loures ― “homem da mala” de Temer e pessoa de sua mais estrita confiança, segundo o próprio Temer ― arrastando pela Rua Pamplona, em São Paulo, uma mala com R$ 500 mil de propina entregues pela JBS (mala essa que, depois da apreensão feita pela PF no “bunker” dos ex-ministro Geddel Vieira Lima, passou a ser considerada simples necessaire).

A conferir o resultado dessa merdeira toda.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

domingo, 18 de junho de 2017

NO MATO SEM CACHORRO

Quem não tem cão caça com gato, diz um velho ditado. Mas nem gato sobrou. O que se tem é gatuno roubando a esperança dos brasileiros, gatuno ignorando provas em julgamentos, gatuno governando o país, gatuno candidato à reeleição presidencial e até gatuno defendendo a antecipação das diretas. Tudo em nome da governabilidade e do estado democrático de direito, como se a palavra democracia ainda significasse alguma coisa nesta republiqueta de bananas.

Em 2012, assistimos estarrecidos, mas esperançosos, a condenação da alta cúpula do Mensalão. No ano passado, livramo-nos daquela que afundou o Brasil na maior recessão da sua história, e que entrou para a vida pública após levar à falência duas lojinhas tipo R$1,99 quando a paridade cambial entre o real e o dólar favorecia sobremaneira a importação e revenda de badulaques ― a propósito, leia o post que publiquei no final de 2014, caso não lhe baste o excerto que transcrevo a seguir:

Pão & Circo. Com esse nome sugestivo — alusivo à estratégia romana destinada a entreter e ludibriar a massa insatisfeita com os excessos do Império —, Dilma montou, em fevereiro de 1995, uma lojinha de bugigangas, nos moldes das populares casas de R$ 1,99. O negócio em gestação cumpriu a liturgia comercial habitual. Ao registro do CNPJ na Junta Comercial seguiu-se o aluguel de um imóvel em Porto Alegre, onde funcionava a matriz. Quatro meses depois, uma filial foi erguida no centro comercial Olaria, também na capital gaúcha. O problema, para Dilma e seus três sócios, é que a presidente cuidou da contabilidade da empresa como lida hoje com as finanças do País. (...) Em apenas 17 meses, a loja quebrou; em julho de 1996, ela já não existia mais. Tocar uma lojinha de quinquilharias baratas deveria ser algo trivial, principalmente para alguém que 15 anos depois se apresentaria aos eleitores como a “gerentona” capaz de manter o Brasil no rumo do desenvolvimento. Mas, ao administrar seu comércio, Dilma cometeu erros banais e em sequência. Qualquer semelhança com a barafunda administrativa do País e os equívocos cometidos na área econômica a partir de 2010, levando ao desequilíbrio completo das contas públicas e à irresponsabilidade fiscal, é mera coincidência. Ou não. (...) Para começar, a loja foi aberta sem que os donos soubessem ao certo o que seria comercializado ali. Às favas o planejamento — primeiro passo para criação de qualquer negócio que se pretenda lucrativo. A empresa foi registrada para vender de tudo um pouco a preços módicos, entre bijuterias, confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco e até flores naturais e artificiais. Mas acabou apostando no comércio de brinquedos para crianças, em especial os “Cavaleiros do Zodíaco”. Os artigos revendidos pela Pão & Circo eram importados de um bazar localizado no Panamá, para onde Dilma e uma das sócias, a ex-cunhada Sirlei Araújo, viajaram três vezes para comprar os produtos. Apesar de os produtos custarem bem pouco, o negócio de Dilma era impopular — como se tornou a ex-presidanta ao longo do seu governo. Ao abrir a vendinha, a anta vermelha não levou em conta que “o olho do dono engorda o porco”, e só aparecia por lá eventualmente, preferindo dar ordens e terceirizar as tarefas do dia a dia, como fez ao delegar a economia ao ministro Joaquim Levy e a política ao vice Michel Temer, até este desistir da função dizendo-se boicotado pelo (então) ministro-chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante. Na sociedade da Pão & Circo, o equivalente ao Mercadante era Carlos Araújo, o ex-marido, que aconselhava a “chefa” sobre como ela turbinar as vendas, mas era tão inepto quanto aquela que viria ser a chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás no governo de Lula, por ocasião da negociata de Pasadena. Mesmo assim, a gerentona de araque teve uma carreira meteórica: sem saber atirar, virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado; sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, virou estrela de palanque; sem jamais ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente da Banânia.

Livramo-nos de Dilma, mas herdamos Michel Temer, que jamais conquistou a simpatia dos brasileiros ― e nem poderia, tendo sido vice de quem foi e presidente do PMDB por 15 anos ―, mas que vinha logrando êxito em descascar o monumental abacaxi herdado das gestões lulopetistas até ser abatido em seu voo de galinha pela delação premiada de Joesley Batista e mais 6 altos executivos da JBF/J&F.

Temer nos prometeu um ministério de notáveis, mas cercou-se de uma notável confraria de corruptos. O primeiro a cair foi Romero Jucá, o “Caju”, que deixou o Ministério do Planejamento uma semana depois de ser nomeado ― só que continua no governo, ocupando uma secretaria criada especialmente para preservar seu direito ao foro privilegiado. Na sequência, demitiram-se ― ou foram demitidos ― Fabiano Silveira, Henrique Eduardo Alves, Geddel Vieira Lima e outra meia dúzia de ministros e/ou assessores presidenciais, em grande parte por serem investigados na Justiça ou acusados de corrupção por delatores na Lava-Jato. Temer moveu mundos e fundos para preservar Eliseu Padilha, o “Primo”, e Wellington Moreira Franco, o “Angorá”, que o ajudam a comandar a quadrilha mais perigosa do Brasil, como afirmou o megaempresário moedor de carne em entrevista à revista Época desta semana.

Até os pedalinhos do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, sempre souberam que Lula institucionalizou a corrupção no Brasil. E quem não sabia ficou sabendo pelo procurador Deltan Dallagnol, que, no final do ano passado, apresentou à imprensa um PowerPoint tosco, mas indiscutivelmente elucidativo, mostrando que o molusco abjeto, ora penta-réu e às vésperas de sua primeira condenação na Lava-Jato, era, sim, o comandante máximo da ORCRIM. Agora, a se confirmarem as acusações de Joesley Batista, o petralha perderá o posto para Temer, como o Mensalão perdeu para o Petrolão o título de “maior escândalo de corrupção da nossa história” e rebaixou o famigerado “Esquema PC”, responsável pelo impeachment de Collor em 1992, a “coisa de ladrão de galinhas”.

Parece de nada adiantou o esforço do ministro Gilmar Mendes (que ora é alvo de um pedido de impeachment) para preservar o cargo de Michel Temer ao arrepio da avassaladora torrente de provas de práticas espúrias que propiciaram a reeleição da chapa Dilma-Temer em 2014. Como de nada deve adiantar a nota divulgada pelo Planalto, na manhã deste sábado, segundo a qual “o dono da JBS é um bandido notório que desfia mentiras”, e que o presidente ingressará com ações na Justiça contra ele. Resta explicar porque Temer não pensou nisso quando recebeu o empresário à sorrelfa nos “porões do Jaburu”, ouviu seu relato de práticas criminosas ― como a compra do silencio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro e o pagamento de suborno a magistrados e procuradores da República ― e encerrou conversa como se nada houvesse acontecido, sem lhe dar voz de prisão ou determinar a imediata abertura de um inquérito para apurar os fatos.   

Na entrevista, Joesley reafirma as denúncias que fez ao Ministério Público e à Polícia Federal contra as cúpulas de PT, PMDB e PSDB. Segundo ele, tudo começou há cerca de 10, 15 anos, quando surgiram grupos com divisão de tarefas: um chefe, um operador e um tesoureiro. Disse também que esses esquemas organizados começaram no governo do PT, com a criação de núcleos, divisão de tarefas entre integrantes, em estados, ministérios, fundos de pensão e bancos, dentre os quais o BNDES; que o modelo foi reproduzido por outras legendas, e que, na maioria dos casos, os pagamentos viraram uma obrigação (ele cita como exemplo Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma: “Era só o Guido dizer no BNDES que não era mais do interesse do governo investir no agronegócio e pronto. Bastava uma mudança de diretriz de governo para acabar com o negócio”).

Joesley disse ainda que o presidente “não é um cara cerimonioso com dinheiro” (para bom entendedor...), além de acusa-lo de chefiar “a organização criminosa da Câmara, composta por Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves, Eliseu Padilha e Moreira Franco”, e que, “em Brasília, quem não está preso está no Planalto”.

Durma-se com um barulho desses!

Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/

domingo, 21 de maio de 2017

UM POÇO DE INCERTEZAS

UM POÇO DE INCERTEZAS

O terremoto de magnitude 10 da última quarta-feira, que teve como epicentro o Palácio da Alvorada e se espalhou rapidamente Brasil afora, deixou no chinelo a “Delação do Fim do Mundo” e colocou o governo na antessala do Apocalipse. Tudo começou com o furo de reportagem publicado em O Globo por Lauro Jardim, cuja pronta repercussão na mídia levou ao esvaziamento do Congresso e sitiou no Palácio do Planalto o presidente da República. Quase 24 horas depois, em sua primeira fala à nação, Temer classificou de clandestina a gravação da conversa entre ele e o dono da JBS num encontro à sorrelfa, tarde da noite, no Palácio do Jaburu ― segundo Joesley, foi preciso apenas baixar o vidro do carro e dizer que era o Rodrigo para ter o acesso à garagem liberado ― daí se pode inferir que clandestina foi a reunião, não a gravação.

Observação: A J&F Investimentos é uma holding criada em 1953 pela família Batista e que controla empresas como a JBS, Eldorado Celulose e outras. J, B, e S são as iniciais de José Batista Sobrinho, pai de Joesley e Wesley Batista (e de mais quatro filhos), mais conhecido como Zé Mineiro. Nos anos 1950, o patriarca dos Batista fundou, em Anápolis (GO), a Casa de Carnes Mineira, que deu origem a uma rede de açougues que se virou uma rede de frigoríficos, e que, com os ventos de cauda soprados pelo BNDES durante os governos petistas, aumentou seu faturamento de R$ 4,3 bilhões em 2006 para R$ 170 bilhões em 2016.

Durante a tal conversa, Joesley fala de sua situação como investigado, diz que está “segurando” dois juízes, que vem pagando mesada de R$ 50 mil ao procurador da República Ângelo Goulart Villela em troca de informações sigilosas sobre as operações Sépsis, Greenfield e Cui Bono, nas quais a JBS é investigada, e R$ 400 mil por mês ao doleiro Lucio Funaro, operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (presos na Lava-Jato), para garantir que ambos fiquem de bico calado.

Ao “ser informado” dos crimes do bilionário, Temer deveria ter determinado a pronta abertura de uma investigação, mas agiu como alguém que, numa inconsequente conversa de botequim, ouvisse um amigo discorrer sobre suas aventuras extraconjugais. Só isso (“só” é força de expressão) basta para enquadrá-lo por crime responsabilidade e embasar um pedido de impeachment. À guisa de justificativa, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República divulgou nota afirmando o presidente não acreditou na veracidade das declarações de Joesley ― o empresário estava sendo objeto de inquérito e, portanto, parecia contar vantagem ―, que juízes e/ou membros do Ministério Público estivessem sendo cooptados, e que a gravação teria sido editada mais de 50 vezes. Mesmo assim, Janot determinou a prisão de Ângelo Villela e autorizou a abertura de um inquérito para investigar Michel Temer. Este último, por seu turno, diz que vai largar o osso, como deixou claro em seu segundo pronunciamento à nação. Se ele terá condições de continuar à frente do governo (boa parte da base aliada já começou a debandar, como ratos que abandonam o navio quando pressentem a iminência do naufrágio) ou se será expelido do cargo pelo TSE (que deve retomar o julgamento do pedido de cancelamento da chapa Dilma-Temer no próximo dia 6), aí são outros quinhentos.

Temer orientou sua tropa de choque a “partir para o enfrentamento”, a despeito de o STF ter autorizado a abertura de um inquérito para investigá-lo. A meu ver, isso deveria leva-lo a se afastar (ou ser afastado) do cargo até a conclusão das investigações ― como aconteceria em qualquer democracia que se preze. Mas não Temer, como não Dilma antes dele e nem Collor antes dela (é fato que o “caçador de marajás de araque” renunciou na véspera do julgamento do impeachment para preservar seus direitos políticos, o que não funcionou, pois ele acabou sendo cassado, mas isso já é outra história). Em vez disso, sua excelência resolveu atacar a credibilidade do depoimento de Joesley, mesmo não sendo capaz de apresentar argumentos que expliquem de maneira convincente sua conivência com os atos espúrios revelados durante a conversa clandestina no Jaburu. A julgar por sua retórica, falta pouco para o presidente cair no ridículo em que caíram antes dele a gerentona de araque ― que, além de incompetente, agora é acusada de saber da origem dos milhões que financiaram suas campanhas e de ter negociado pessoalmente parte das propinas ― e a alma viva mais honesta do Brasil ― que deve ser agraciada no mês que vem com sua primeira sentença no âmbito da Lava-Jato).

Temer disse na quinta-feira que a investigação pedida pelo Supremo será território onde surgirão todas as explicações, que não tem qualquer envolvimento com os fatos, que não renunciará à presidência e que exigirá investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro. “Esta situação de dubiedade ou de dúvida não pode persistir por muito tempo. Se foram rápidas nas gravações clandestinas, não podem tardar nas investigações e na solução respeitantemente a essas investigações”, arrematou o presidente. No sábado, porém, o discurso mudou: “A gravação clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos, e incluída no inquérito sem a devida e adequada averiguação, levou muitas pessoas ao engano induzido e trouxe grave crise ao Brasil.

Os especialistas que examinaram o arquivo de áudio não chegaram a um consenso sobre as supostas interrupções ou edições. Alguns atribuem a falha ao gravador, mas a maioria atesta que não há sinais de mudança na parte fundamental da gravação: quando Joesley diz que zerou suas pendências com Eduardo Cunha e ficou de bem com o ex-deputado preso em Curitiba, ouve-se a seguir o presidente incentivar, dizendo “isso tem que continuar, viu”.

Para o perito ouvido pelo Estadão, o mesmo ocorre na parte em que o Temer ouve Joesley dizer que está manipulando a Justiça. O presidente encaminhou a gravação para o serviço de inteligência da Presidência da República; a PGR informou que uma avaliação técnica concluiu que o áudio revela uma conversa lógica e coerente e que a gravação anexada ao inquérito do STF é exatamente a entregue pelo colaborador, e o ministro Edson Fachin determinou o encaminhamento do arquivo à perícia da Polícia Federal, que deverá apresentará a ele as respectivas conclusões. Sem embargo, diversos pontos da conversa que NÃO FORAM CONTESTADOS pelo presidente caracterizam crime de responsabilidade, o que já basta para embasar pedidos de impeachment contra ele. Até  tarde de sexta-feira, 8 pedidos já haviam sido protocolados na Câmara, e no sábado foi a vez da OAB, que aprovou por 25 votos a 1 o relatório que resultará no 9º pedido (isso se nenhum outro for protocolado antes). Resta saber o que fará o presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia, que mantém boas relações com Temer ― ou mantinha, pois não se sabe como elas ficarão daqui por diante.

Temer disse que o autor do grampo está livre e solto, passeando por Nova York, que o Brasil, que já tinha saído da mais grave crise econômica de sua história, vive agora dias de incerteza, que Joesley não passou nenhum dia na cadeia, não foi preso, não foi julgado, não foi punido e, pelo jeito, não será. De fato, diferentemente do que se viu em todos os acordos de colaboração firmados antes deste, os termos da delação dos Batista e outros seis executivos da JBS e J&F, já homologada pelo ministro Fachin, não só permitiram que eles deixassem o país como também os livraram de responder a inquéritos na esfera Penal ― o que é no mínimo estranho. Temer afirmou também que, prevendo os efeitos de sua delação na taxa de câmbio, Joesley comprou US$ 1 bilhão, e sabendo que a gravação também reduziria o valor das ações de sua empresa, vendeu-as antes da queda da bolsa. De fato, a JBS lucrou milhões e milhões de dólares em menos de 24 horas; nesse ponto o presidente está coberto de razão.

Peemedebistas, ministros e outros apoiadores afirmam que o presidente está tranquilo, que vai provar sua inocência, e blá, blá, blá. Mas não é isso que se vê nos raros momentos em que sua excelência dá o ar da graça ― ou da desgraça, melhor dizendo. Uma imagem exibida pela TV Globo durante o primeiro depoimento e reexibida exaustivamente nos telejornais mostra que a fisionomia do presidente denuncia um nervosismo que beira a dor física, e que ele só conseguiu disfarçar o tremor nas mãos entrelaçando firmemente os dedos. Outro detalhe digno de nota: na tarde de quinta-feira, Temer disse que a investigação pedida pelo Supremo Tribunal Federal será território onde surgirão todas as explicações. Se é assim, por que, então, apresentar àquela Corte um pedido de suspensão do inquérito?

O Brasil não precisa (e nem merece) de outro impeachment presidencial. Como dizem os americanos, BETTER THE DEVIL YE KEN, THAN THE DEVIL YE DON'T (numa tradução livre, “melhor ficar com o diabo que conhecemos do que com o que desconhecemos”). O afastamento de Temer levaria Rodrigo Maia ― mais um investigado na Lava-Jato ― a assumir interinamente a presidência e convocar eleições indiretas para o mandato tampão, e com o Congresso que aí está, recheado de réus, investigados ou parlamentares que estão em vias de sê-lo, isso seria uma temeridade. Mas é o que a Constituição determina e, portanto, o que terá de ser feito caso Temer renuncie ou seja cassado pelo TSE.

A propósito da interminável novela da cassação da chapa Dilma-Temer, até quinta-feira tinha-se como certo que um pedido de vistas resultaria em novo adiamento ― isso se os ministros não resolvessem deixar tudo como está, a pretexto de que ação perdeu o objeto quando Dilma foi penabundada. Nada do que veio à luz nos últimos dias ― e nem o que virá nos próximos ― deveria influenciar na decisão no TSE, mas, como bem disse o sempre eloquente presidente daquela Corte, os juízes não são de Marte. Para bom entendedor, meia palavra basta.

Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/