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terça-feira, 5 de junho de 2018

GREVE DOS CAMINHONEIROS ― O RESCALDO



Além de causar muita aporrinhação à população e um prejuízo bilionário à frágil economia tupiniquim, a paralisação dos caminhoneiros expôs a pusilanimidade de um presidente que assumiu o cargo como reformista, mas, sem apoio popular, cercado por assessores do quilate de Padilha, Moreira Franco e Marun e com as vísceras expostas pelas denúncias da JBS, ora claudica melancolicamente em direção a um futuro incerto, sem foro privilegiado nem a aura de poder que atrai os puxa-sacos de plantão.

Temer e seus asseclas não deram a devida importância à bomba de efeito retardado construída nos governos lulopetistas e armada quando Pedro Parente assumiu a presidência da Petrobras e alterou a política de preços dos combustíveis ― só nos últimos 3 meses, o diesel aumentou 11,8%. Assim, nem bem reconquistou o primeiro lugar no ranking das empresas de maior valor de mercado, a estatal ― que durante o governo Dilma amargou prejuízos de US$ 70 bilhões (50 bilhões por vender combustíveis abaixo do preço de custo e outros 20 bilhões devido à rapinagem do Petrolão) ―, a estatal perdeu quase 1/3 de seu valor de mercado e caiu da primeira para a quarta posição no ranking das empresas brasileiras mais valorizadas (ficando atrás da Ambev, Vale e Itaú/Unibanco).

Em meio aos esforços para se alcançar a composição com os caminhoneiros, Marcio França, atual governador de São Paulo e candidato à reeleição, propôs o tabelamento do preço do diesel (reduzido) e dos fretes (aumentado) ― nunca é demais lembrar que vários governos tabelaram muita coisa no Brasil, e o resultado foram escassez de produtos, preços em alta e fortalecimento do mercado paralelo. Para o governador, não é possível uma empresa brasileira, que também pertence aos brasileiros, “querer pensar em dólar”. Só que não se trata de “querer pensar”: a Petrobras compra em dólar, vende em dólar, toma empréstimos e recebe investimentos em dólar ― não porque quer, mas porque não tem como fazer isso apenas em reais.

Seja como for, o movimento paredista só foi debelado depois que o governo federal cedeu mais do que deveria ou poderia. E com a Petrobras vendendo diesel subsidiado, o futuro é incerto ― certo mesmo é que reduzir impostos sobre o diesel significa subsidiar o combustível, o que gera uma receita a menos e uma despesa a mais, deixando ao governo duas opções: aumentar impostos de outros setores ou reduzir gastos. 

Os ministros afirmam que não haverá aumento de impostos, mas sim uma “redução de incentivos” ― o que, em última análise, significa retirar um incentivo para subsidiar outro. Mas não importa o nome que se dê: no final das contas, é o contribuinte quem vai bancar o prejuízo, embora já trabalhe 5 meses por ano para pagar impostos.

Enquanto a Petrobras for “nossa”, estaremos condenados a comprar gasolina de qualidade inferior a preços exorbitantes. No dia em que a empresa deixar de ser “nossa”, o cenário certamente mudará. Basta lembrar o que aconteceu com o telefone, que era artigo de luxo quando controlado pelas “Teles” do grupo Telebras. Bastou que elas fossem privatizadas ― ou entregues ao “capitalismo malvado”, como gostam de dizer os apedeutas vermelhos ― para que o serviço ficasse ao alcance de todos, inclusive dos mais humildes.

Observação: Até a virada do século, era preciso aderir a um famigerado “plano de expansão”, vinculado à compra de ações do execrável Sistema Telebras, para se candidatar a uma linha telefônica (que era considerada um “bem” e, portanto, tinha de contar da declaração de imposto de renda). Além de caro, o serviço era de péssima qualidade. O prazo para a instalação (24 meses) raramente era cumprido, o que fazia a felicidade dos cambistas que atuavam no mercado negro de telefones. Na cidade marajoara de Cachoeira do Arari, no Pará, dez munícipes que aderiram ao plano de expansão esperaram 15 anos pela instalação das linhas. Alguns nem tiveram o gostinho de fazer uma chamada, pois morreram anos antes de a Telepará cumprir sua parte no contrato. Mesmo assim, há quem se declare contra as privatizações.

Além de expor a fragilidade do governo, a irresponsabilidade da oposição e a aridez de ideias dos presidenciáveis, a crise resultante da greve dos caminhoneiros levou a compras exageradas nos supermercados, estoques domésticos, filas nervosas nos postos de combustível ― teve muito comportamento na base de cada um por si. Cabem nessa categoria as greves e manifestações oportunistas. Governo fraco, cedendo, também vou buscar o meu ― tal foi o comportamento de muita gente. E isso sem mencionar a demissão de Pedro Parente e a ação de “intervencionistas”, que, por questão de espaço, ficam para a próxima postagem.

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sexta-feira, 25 de maio de 2018

SOBRE A PARALISAÇÃO DOS CAMINHONEIROS.



A paralisação dos caminhoneiros entra hoje em seu quinto dia. Como sói acontecer sempre que determinadas categorias realizam protestos, quem toma na tarraqueta é o povo, embora a “pressão” devesse ser dirigida ao governo federal, aos responsáveis pelas estatais, aos sindicatos patronais e aos donos de escolas particulares ― refiro-me à paralisação dos professores, na última quarta-feira, que deixou os alunos sem aulas, a despeito das caras mensalidades pagas pelos pais ou responsáveis, enquanto os donos dos estabelecimentos de ensino, ao que parece, não estavam nem aí.

Como sempre, quem “arde” é a população, pois as consequências imediatas desse lockout são congestionamentos monstruosos nas rodovias e marginais, filas quilométricas em postos de combustível, ágio no preço do litro cobrado nas bombas, caos no transporte coletivo urbano, atrasos e cancelamentos de voos nos principais aeroportos do país, desabastecimento nos entrepostos de alimentos (notadamente hortifrutigranjeiros), elevação de até 600% no preço de produtos como como cebola, batata, cenoura etc. nas feiras, sacolões e supermercados, e por aí vai.

Para tentar acabar com as manifestações, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, anunciou na noite da última quarta-feira uma redução de 10% no preço do diesel nas refinarias, que seria mantida por 15 dias. Ele avalia que a medida resultará numa queda de 23 centavos no preço do litro nas refinarias e de 25 centavos para os consumidores, mas deixa claro que não produzirá efeitos sobre o preço da gasolina. Ainda segundo Parente, a petroleira não cedeu a pressões de movimentos sociais ou mesmo do governo federal, apenas reduziu temporariamente o preço do óleo como gesto de boa vontade, “para que o governo se entenda com os caminhoneiros”. Tá, me engana que eu gosto.

Os Correios ― que já foram considerados um “ponto fora da curva” na ineficiência das estatais tupiniquins, mas vêm prestando um serviço de merda de uns tempos a esta parte ― já suspenderam os serviços de postagem com dia e hora marcados (Sedex 10, 12 e Hoje) e avisaram que, enquanto perdurarem os efeitos dessa greve, haverá atraso nas entregas do Sedex do PAC e das correspondências em geral. Vai ser um festival de contas de consumo e boletos chegando após a data de vencimento, e o ônus (multas, juros de mora, etc.), como de costume, ficará a cargo do consumidor, que é “o último a falar e o primeiro a apanhar”.

A Câmara já aprovou a redução do PIS/COFINS sobre o diesel, mas falta o Senado votar a medida. Só que os senhores senadores debandaram para "suas bases" já na quinta-feira, insensíveis à situação caótica do país. Parece que Eunício Oliveira, que já havia embarcado para o Ceará, achou por bem voltar e marcar uma reunião de lideranças na noite de quinta-feira, mas até agora isso é tudo que eu sei (até porque estou escrevendo este texto no final da tarde da quinta-feira).

O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros afirmou nesta quinta-feira que os protestos continuarão até que a isenção da alíquota PIS/COFINS seja publicada no Diário Oficial da União. Segundo ele disse entrevista à rádio BandNews, a redução de 10% na cotação do diesel, anunciada na noite de quarta-feira pela Petrobras, não resolve a situação.

Cabe a Michel-Pato-Manco-Temer, seus assessores e conspícuos congressistas tomarem uma atitude, e com máxima urgência, pois não é admissível deixar o país paralisado por conta de um lockout como esse. No Planalto, há quem acredite que o desabastecimento de alimentos e combustíveis levará o povo às ruas, como em 2013. O temor é que, com a pressão popular, o Congresso vire uma panela de pressão e a reeleição de aliados fique comprometida. Até o início da Copa, governistas querem passar ao largo da crise. Então, por que não fazem alguma coisa?

Triste Brasil.

Atualização:

Governo e representantes de caminhoneiros anunciaram na noite de ontem um acordo para suspender greve. Mesmo assim, protestos seguem em ao menos 7 dos 26 estados e no DF. O acesso ao porto de Santos continua bloqueado, e a cidade de São Paulo não tem rodízio nem coleta de lixo. Ainda que o movimento termine hoje, levará dias até que o abastecimento e as rotinas voltem ao normal, sem mencionar os danos irreparáveis, como alimentos jogados fora, animais mortos de inanição nas estradas e pacientes que ficaram sem remédios. A conta de quanto o país perdeu nos últimos dias ainda será feita. A única já computada é a da Petrobras, que, depois que cedeu à pressão e reduziu o preço do diesel, perdeu 45 bilhões de reais na bolsa, na última quinta-feira.

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