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sexta-feira, 1 de junho de 2018

INTERVENÇÃO MILITAR NÃO FOI E NEM SERÁ DECRETADA NO BRASIL


Mesmo com o arrefecimento da greve dos caminhoneiros, os amalucados entusiastas da intervenção militar no Brasil mantêm sua saga de espalhar por aí que as Forças Armadas estão prestes a destituir o presidente Michel Temer e tomar o poder. Dois boatos com a ladainha intervencionista começaram a circular com força no WhatsApp nesta quarta-feira, 30.
Um deles, propagado na forma de um tosco “comunicado oficial” atribuído ao comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas (foto acima), garante que a intervenção militar já foi decretada à meia-noite desta quarta-feira e que uma junta militar vai comandar o país até o dia 31 de dezembro de 2018. Todos os partidos foram extintos, diz o texto, que inclui até foto de Villas Boas.
 (Reprodução/Reprodução)
Na outra lorota, um áudio igualmente lunático, um sujeito fala como se fosse Villas Boas e pede aos brasileiros para irem às ruas às 17h desta quarta-feira, pedindo pela intervenção. Como resultado, as Forças Armadas interviriam nesta quinta-feira, 31, a partir das 8h. Leia abaixo a transcrição da gravação:

“Brasileiros e brasileiras, aqui quem fala com vocês é o general de Exército do Brasil, Eduardo Villas Boas. Estávamos reunidos a semana inteira para tratar da crise dos caminhoneiros junto ao almirante de esquadra da Marinha, Eduardo Ferreira, e o tenente brigadeiro do ar da Aeronáutica do Brasil, Nivaldo Rossato, a Constituição brasileira, em seu artigo 142, dá ao presidente poder sobre as Forças Armadas. No entanto, esse presidente que se instituiu se instituiu através de um golpe e não do povo. E atendendo ao clamor popular, nós decidimos que iremos tomar uma decisão. O que estamos pedindo pra vocês é que nesta quarta-feira, dia 30 de maio, às 5 horas da tarde, em todas as capitais brasileiras, vocês saiam às ruas e peçam pela intervenção militar. Dia 31, a partir das 8 horas da manhã, nós iremos intervir, nós iremos destituir o presidente, junto com o Congresso Nacional e o Judiciário. Devido à corrupção que se instalou nesse país, faremos um governo interino e garantiremos a ordem e a segurança. Pedimos aos brasileiros paciência, porque não sabemos ao certo quanto tempo esse governo interino vai durar. Porém, nós não faremos golpe e sim convocaremos novas eleições. Peço ajuda a todos os brasileiros e que Deus nos abençoe”.















O Brasil não está em meio a uma intervenção militar e nem estará amanhã pela manhã, por mais que as ruas do país sejam tomadas por intervencionistas com saudades da ditadura. As únicas manifestações públicas do general Eduardo Villas Boas nesta quarta-feira são estes três tuítes, um deles de agradecimento aos militares que, por ordem do presidente da República, atuaram na desmobilização da greve dos motoristas.

Os Colégios Militares do @exercitooficial são sempre um orgulho para a nossa Instituição. Seus elevados padrões educacionais promovem a formação de futuros cidadãos com capacidade de conduzir os destinos do nosso país. Sem educação, não há futuro para uma nação. https://twitter.com/exercitooficial/status/1001877219604508672 


Norte a Sul - Leste a Oeste. O seu . Parabéns a todos os comandantes de área diretamente envolvidos na solução da crise formada em torno da “greve de caminhoneiros”. Urge voltarmos à normalidade! https://twitter.com/gen_paulosergio/status/1001790830250782721 

Caso os militares tivessem declarado vaga a Presidência, tal qual o senador Auro de Moura Andrade, em 1964, e decretado a extinção de partidos políticos, haveria uma cobertura ostensiva, ampla, geral e irrestrita pela imprensa profissional. Não se falaria em outra coisa no país. Não é nem um pouco razoável a ideia de que um acontecimento dessa magnitude tenha sido “noticiado” apenas no WhatsApp ou nas redes sociais.
Além do mais, se a ideia era fazer alguém acreditar que houve ou haverá uma intervenção militar, as mentes desocupadas que perderam tempo elaborando o texto e a gravação poderiam ter caprichado mais no uso da língua portuguesa e na imitação de Eduardo Villas Boas. Era o mínimo.
Nos breves 42 caracteres do trecho “declaramos vago à Presidência da Republica”, o boateiro cometeu nada menos que um erro de concordância nominal, um de acentuação e um equívoco no uso da crase. Em “com isso assume o Governo do BRASIL as forças armadas e Junta Militar que governará até o dia 31 de Dezembro de 2018”, há dois erros de concordância verbal e duas vírgulas ausentes, além de “forças armadas” não estar grafado em letras maiúsculas. Uma calamidade.
Fora os erros de português no “decreto”, a voz do homem que anuncia a intervenção militar não tem nada a ver com a do comandante do Exército. Ouça abaixo a voz de Eduardo Villas Boas, cujo sotaque e entonação são bem diferentes dos do sujeito que se passa por ele:


TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG ME ENGANA QUE EU POSTO


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quinta-feira, 31 de maio de 2018

CAMINHONEIROS ― NO FIM TUDO DÁ CERTO, MAS AINDA NÃO CHEGOU NO FIM



 A paralisação dos caminhoneiros completou dez dias nesta quarta-feira, véspera do feriadão de Corpus Christi. Na tarde anterior, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos afirmou em nota que a greve foi “extraordinária”, mas que começava a sofrer um desgaste desnecessário, dado que a pauta de reivindicações fora plenamente atendida. Assim, a retomada do abastecimento e a redução dos pontos de bloqueio vêm ocorrendo de maneira gradual, embora já se vislumbre no horizonte uma paralisação dos petroleiros, que o Tribunal Superior do Trabalho já classificou como ilegal ― e estipulou multa diária de 500.000 reais em caso de descumprimento da decisão.

É preocupante o fato de a greve ter paralisado o país. Claro que contribuíram para isso a insatisfação popular com um governo flibusteiro e desmoralizado, que houve infiltrados tirando a castanha com a mão do gato, que a “comissão de gerenciamento de crise” tenha sido inepta nas negociações, enfim... Mas isso nos leva a imaginar o que devemos esperar das próximas eleições: como se já não bastasse um criminoso condenado liderar as pesquisas de intenção de voto para a presidência da Banânia, Dilma e Aécio são os candidatos mais cotados para o Senado no segundo maior colégio eleitoral do país ― e como são duas as cadeiras a preencher, há espaço para os dois.

A greve dos caminhoneiros foi uma bomba de efeito retardado. Sua construção teve início ainda em 2008, quando o criminoso de Garanhuns resolveu estimular a economia oferecendo juros baixíssimos aos compradores de caminhões. Só que a frota cresceu 40% nos últimos 10 anos, e a economia, 11% no mesmo período. Resultado: o excesso de caminhões derrubou o valor dos fretes.

Mais adiante, a anta vermelha represou artificialmente o preço dos combustíveis ― medida que, combinada com os efeitos nefastos do Petrolão, levou a Petrobras à bancarrota. Aliás, justamente quando a estatal se recuperava desse malogro monumental, as negociações do governo para pôr fim à paralisação fez com que a estatal perdesse mais de 100 bilhões de reais em valor de mercado.

A bomba explodiu no colo de Michel Temer, que encarregou Pedro Parente de reverter os monstruosos prejuízos advindos das más gestões anteriores. E como uma das medidas saneadoras do novo presidente da Petrobras foi precificar os combustíveis fósseis de acordo com a variação do preço do petróleo no mercado internacional, o diesel aumentou de três em três dias durante o último ano, perfazendo uma elevação de 30% ― contra uma inflação oficial de míseros 2%. 

Diesel caro e frete barato sufocaram os caminhoneiros, mas o governo só se sensibilizou com o problema depois que a categoria paralisou o país. Culpar a Petrobras pelo valor alto cobrado nas bombas é ignorar a existência dos outros fatores, como os impostos, que representam dois terços do preço da gasolina e metade do preço do diesel. E baixar impostos, só sob pressão.

Resumo da ópera: Um presidente assessorado por Moreira Franco, Eunício Oliveira e Carlos Marun não pode saber o que fazer. O problema é que os caminhoneiros também não têm líderes. E se os dois lados não têm líderes, como chegar a um acordo? 

Josias de Souza, repórter respeitado, diz que um auxiliar de Temer, em conversa telefônica com um congressista, disse na última segunda-feira que o presidente tem dado sinais de desânimo. O principal troféu de Temer é a recuperação da economia ― que, convenhamos, já não era grande coisa, mas, com os atuais problemas, a previsão de crescimento deve ser revista para baixo. E Temer tem outro problema com que se preocupar: quando deixar o Planalto, será alvo de diversos inquéritos e estará sujeito aos juízes de primeira instância. 

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segunda-feira, 28 de maio de 2018

AINDA SOBRE A GREVE, A PUSILANIMIDADE DO GOVERNO E AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES



 Com o saco cheio dessa greve estúpida ― não por ela não fazer sentido, mas por colocar em risco o abastecimento de combustíveis, mercadorias, remédios etc. ―, junto minhas preces às de milhões de brasileiros, na esperança de que as medidas mais duras anunciadas pelo governo não sejam apenas bravatas, que os agentes ocultos do locaute sejam punidos exemplarmente e os piquetes, removidos o quanto antes ― se possível, sem violência ―, de modo que os brasileiros que precisam trabalhar consigam fazê-lo.

Dizer, agora, que o governo subestimou a capacidade de mobilização da categoria e que a paralisação poderia ter sido evitada ou minimizada é chorar sobre o leite derramado. Apurar responsabilidades e atribuir culpas, somente após o “incêndio” ser controlado ― por “incêndio”, entenda-se a maior paralisação de caminhoneiros desde 1999, quando a categoria cruzou os braços por quatro dias para pressionar o então presidente FHC a rever os reajustes do diesel e dos pedágios federais. 

Fato é que a paralisação atual representa um sério baque para uma economia cuja recuperação é frágil, além de desmoralizar ainda mais um governo mambembe, cuja pusilanimidade pode estimular outros a repetirem o feito em defesa de suas reivindicações. Afinal, hienas, abutres e tubarões farejam sangue a quilômetros. Com o governo nas cordas, há quem possa querer levar vantagem, e seria uma catástrofe se uma sucessão de movimentos paredistas anulasse os pífios avanços da Economia sob a gestão do presidente mais impopular da nossa história.      

Falando em Michel Temer, parece que ele desistiu de disputar a reeleição com outros vinte e tantos postulantes ao cargo ― que, com exceção do troglodita Jair Bolsonaro e da sonhática Marina Silva, não têm a menor chance de se eleger. Lula, o criminoso que, mesmo encarcerado, continua líder em intenções de votos (não me pergunte por que seu nome continua sendo incluído nas pesquisas), parece não se dar conta de sua situação, e o apoio da patuleia incorrigível só respalda a tese de que nasce um idiota a cada minuto neste mundo, e os que nascem no Brasil já vêm com título de eleitor.

Enquanto boçais de quatro costados apoiam a volta de corruptos ao poder (pesquisas dão conta de que, em Minas Gerais, os candidatos mais cotados para o Senado são Dilma e Aécio), debiloides almejam o retorno dos militares, alegando que a economia cresceu nos anos 70 e 80, e que não havia corrupção nas gestões dos generais. O fato é que, à exemplo de Lula, que surfou nas ondas de um cenário internacional benfazejo (mas que mudou da água para o vinho em 2008), os milicos fizeram o Brasil crescer mais de 10% ao ano entre 1968 e 1973, mas somente porque havia liquidez abundante, capitais externos para investimentos e empréstimos a juros baixos. Em 1985, quando eles finalmente largaram o osso, deixaram uma inflação na casa dos 200% ao ano, uma dívida pública equivalente a 30% do PIB e uma dívida externa 20 vezes maior que a de 1970, sem falar nas obras faraônicas inacabadas e nas estatais endividadas. 

E também houve corrupção nos anos de chumbo, tanto que ficou famosa a frase de Mario Henrique Simonsen, que foi ministro tanto no governo de Geisel quanto no de Figueiredo: “Às vezes é melhor pagar a comissão e não fazer a obra; sai mais barato”. Em tempos nos quais a censura campeava solta, não havia era jornalismo investigativo, e daí a crença de que o regime botava ordem no galinheiro. Na verdade, o que havia era um Judiciário acorrentado, eleições controladas e aniquilação sumária dos opositores (como revelado recentemente por um documento da CIA).

A tese de que uma ditadura militar é melhor do que uma ditadura comunista é inconsistente. A rigor, nenhuma das duas presta. A direita justificava sua ditadura como meio de evitar a instalação de um regime à cubana por aqui, e a esquerda revolucionária, que de fato treinava em Cuba, combatia o regime na esperança de que sua derrubada levasse não à democracia que chamavam de burguesa, mas ao socialismo da ilha, que também aniquilava seus opositores. 

E quando se achava que a lição fora aprendida, vêm os defensores do militarismo alardear que nossa democracia é fraca para conter as esquerdas e os corruptos, e as esquerdas a contestar a legitimidade desta democracia, que, segundo essa patuleia atávia, pune Lula e seus asseclas não por eles serem corruptos, mas por “serem do povo”.

A cinco meses das eleições, entre dezenas de partidos registrados no TSE ― e outros tantos aguardando registro, de olho no fundo partidário bilionário ―, não se encontra um que apresente sequer um arremedo de projeto de governo. São todos verdadeiras oligarquias dominadas por seus dirigentes, que controlam tudo, do cofre às eleições internas, e delas, às campanhas eleitorais, sujeitando os novos candidatos às suas ordens ditatoriais. E isso vem acontecendo há trinta anos, ou seja, desde a celebrada “democratização” do país.

Enquanto não houver regras que proíbam a reeleição na direção das siglas, que impeçam membros das mesmas famílias de se revezar no comando partidário, não haverá renovação de quadros, nem, consequentemente, formação de estadistas. Todos, aí incluídos os militares, foram levados ― ou levaram a si mesmos ― a determinados pactos políticos para se garantir no poder. O caso de Lula surpreendeu ainda mais porque o PT dizia defender a ética e combater a corrupção, mas isso não muda o fato de que todos que se sentam na cadeira presidencial continuam comprando apoio. Assim, a corrupção continuará em curso enquanto não houver autonomia dos poderes, aí incluído o Judiciário, que depende dos demais para manter privilégios, como auxílio-moradia e ganhos acima do teto constitucional.

Infelizmente, as próximas eleições não resolverão o problema, mesmo que, a duras penas, se eleja por margem mínima um candidato de centro. Se nada mudar, o próximo presidente ficará refém do Congresso, das maiores bancadas, do toma-lá-dá-cá e de todas as mazelas do nosso presidencialismo de cooptação. Em suma: eleições representam ou mudanças efetivas ou arranjos precários; no caso do Brasil, as de outubro certamente pertencerão ao segundo grupo.

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sexta-feira, 25 de maio de 2018

GREVE DOS CAMINHONEIROS ― AINDA SOBRE O LOCKOUT QUE PAROU O PAÍS





Em troca do fim da paralisação, o governo ofereceu aos caminhoneiros um desconto de 10% sobre o preço do diesel, prometeu mantê-lo por 30 dias e renová-lo sucessivamente ― um acordo vantajoso para a Petrobras, que só na última quinta-feira perdeu R$ 47 bilhões em valor de mercado na Bolsa, mas péssimo para as contas públicas. Todavia, ainda é grande o número de caminhoneiros paralisados nesta sexta-feira, quinto dia consecutivo da greve, em pelo menos 24 estados e no Distrito Federal.

Paralelamente, aumenta o número de farmácias sem remédios e de postos sem combustíveis e mercados desabastecidos. Isso para não mencionar os inevitáveis atrasos na entrega da correspondência, a ameaça de falta d’água no Rio e a suspensão do rodízio e da coleta de lixo em São Paulo. E mais: o movimento deu asas a oportunismos de todos os tipos: donos de postos achacaram motoristas em pânico, a turminha do “quanto pior, melhor” festejou o caos e a direita atávica voltou a pedir “intervenção militar”.

Em nota, o Comandante-geral do Exército aventou o possível uso de força para desbloquear rodovias em todo o Brasil, mas o Comandante do Exército de São Paulo assegurou que que nenhuma intervenção será feita sem a ordem vinda de Brasília ― até porque não dispõe de contingente suficiente para atuar diante da situação. De acordo com o ministro Raul Jungmann, a Força Nacional poderá ser convocada atuar na reorganização do tráfego de veículos, mas isso só deve acontecer se os caminhoneiros não cumprirem sua parte no acordo (a Polícia Rodoviária Federal já vem sendo mobilizada para ajudar a levar combustível até os aeroportos brasileiros).

Essa crise não foi deflagrada por uma simples greve cujas reivindicações podem até ser justas, conquanto a irredutibilidade dos caminhoneiros venha infernizando a vida da população. Salta aos olhos que houve participação explícita de grandes empresários de transportes, e greve apoiada por patrões não é greve, é lockout ― e pode ter outras finalidades, tais como desestabilizar governos e tumultuar eleições.

Com a irresponsabilidade de sempre, os senadores anteciparam seu retorno “às bases”, temendo não conseguirem voos para a folga do final de semana. Os deputados, por sua vez, ignoraram um erro crasso de cálculo ao votar a redução de impostos sobre combustíveis. O Executivo, por seu turno, aumentou sua lista de trapalhadas: com as rodovias em polvorosa, Temer viajou para participar de uma cerimônia de entrega de automóveis e, do palanque, disse que o “fato mais importante do dia” era a sua presença na solenidade

Sem força política para peitar os responsáveis pelo lockout, o presidente autorizou seus asseclas a ceder à chantagem e torrar mais dinheiro público em forma de subsídios, tudo em nome de uma trégua de 15 dias que ninguém sabe se será cumprida. Enquanto isso, os brasileiros assistem apreensivos ao desenrolar dos acontecimentos.

Em casa onde falta pão, todos gritam e ninguém tem razão.

ATUALIZAÇÃO

A despeito do acordo firmado entre o governo e os caminhoneiros ― que vai custar caro para os cofres públicos ― a situação continua caótica. São 4,9 bilhões de reais até o final do ano, além dos 2 bilhões comprometidos em zerar a alíquota da Cide e dos estimados 12 bilhões com a retirada dos PIS/COFINS, que tramita no Congresso.

A União Nacional dos Caminhoneiros e o Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas não assinaram o acordo, e afirmam que a paralisação prosseguirá até o Senado votar projeto de lei que altera a política de preços para o transporte rodoviário. A Associação Brasileira dos Caminhoneiros tampouco assinou o acordo, e diz que só encerra a greve quando as medidas anunciadas forem publicadas no DCU. A Confederação Nacional dos Transportes ainda vai decidir se a oferta é suficiente.

No fim das contas, foi mais uma mostra de como grupos de interesse, patronais ou não, conseguem impor suas agendas ao país, passando por cima dos interesses gerais da população. O governo é fraco; os caminhoneiros deitaram e rolaram. Só que, para deixar o campo de batalha, eles querem a isenção da cobrança do PIS/PASEP e da COFINS incidente sobre o diesel até o fim do ano. A matéria foi aprovada ontem pela Câmara; caso seja chancelada também pelo Senado, a isenção tributária terá de receber a sanção do presidente pato-manco.

ATUALIZAÇÃO (2). 

Dada a irredutibilidade dos caminhoneiros, o presidente Michel Temer anunciou há poucos minutos, em cadeia nacional, que vai convocar as Forças Federais de Segurança para liberar as estradas bloqueadas desde segunda-feira. A decisão foi tomada após uma reunião do Gabinete de Segurança Institucional no Palácio do Planalto com Temer e ministros do governo.

“Comunico que acionei as Forças Federais de Segurança para desbloquear as estradas e solicitei aos governadores que façam o mesmo”, disse ele. “Não vamos permitir que a população fique sem gêneros de primeira necessidade, que fiquem sem produtos, que hospitais fiquem insumos para salvar vidas nem que crianças sejam prejudicadas pelo fechamento das escolas.”

Estava mais que na hora.

Volto com mais detalhes quando eu os obtiver.

SOBRE A PARALISAÇÃO DOS CAMINHONEIROS.



A paralisação dos caminhoneiros entra hoje em seu quinto dia. Como sói acontecer sempre que determinadas categorias realizam protestos, quem toma na tarraqueta é o povo, embora a “pressão” devesse ser dirigida ao governo federal, aos responsáveis pelas estatais, aos sindicatos patronais e aos donos de escolas particulares ― refiro-me à paralisação dos professores, na última quarta-feira, que deixou os alunos sem aulas, a despeito das caras mensalidades pagas pelos pais ou responsáveis, enquanto os donos dos estabelecimentos de ensino, ao que parece, não estavam nem aí.

Como sempre, quem “arde” é a população, pois as consequências imediatas desse lockout são congestionamentos monstruosos nas rodovias e marginais, filas quilométricas em postos de combustível, ágio no preço do litro cobrado nas bombas, caos no transporte coletivo urbano, atrasos e cancelamentos de voos nos principais aeroportos do país, desabastecimento nos entrepostos de alimentos (notadamente hortifrutigranjeiros), elevação de até 600% no preço de produtos como como cebola, batata, cenoura etc. nas feiras, sacolões e supermercados, e por aí vai.

Para tentar acabar com as manifestações, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, anunciou na noite da última quarta-feira uma redução de 10% no preço do diesel nas refinarias, que seria mantida por 15 dias. Ele avalia que a medida resultará numa queda de 23 centavos no preço do litro nas refinarias e de 25 centavos para os consumidores, mas deixa claro que não produzirá efeitos sobre o preço da gasolina. Ainda segundo Parente, a petroleira não cedeu a pressões de movimentos sociais ou mesmo do governo federal, apenas reduziu temporariamente o preço do óleo como gesto de boa vontade, “para que o governo se entenda com os caminhoneiros”. Tá, me engana que eu gosto.

Os Correios ― que já foram considerados um “ponto fora da curva” na ineficiência das estatais tupiniquins, mas vêm prestando um serviço de merda de uns tempos a esta parte ― já suspenderam os serviços de postagem com dia e hora marcados (Sedex 10, 12 e Hoje) e avisaram que, enquanto perdurarem os efeitos dessa greve, haverá atraso nas entregas do Sedex do PAC e das correspondências em geral. Vai ser um festival de contas de consumo e boletos chegando após a data de vencimento, e o ônus (multas, juros de mora, etc.), como de costume, ficará a cargo do consumidor, que é “o último a falar e o primeiro a apanhar”.

A Câmara já aprovou a redução do PIS/COFINS sobre o diesel, mas falta o Senado votar a medida. Só que os senhores senadores debandaram para "suas bases" já na quinta-feira, insensíveis à situação caótica do país. Parece que Eunício Oliveira, que já havia embarcado para o Ceará, achou por bem voltar e marcar uma reunião de lideranças na noite de quinta-feira, mas até agora isso é tudo que eu sei (até porque estou escrevendo este texto no final da tarde da quinta-feira).

O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros afirmou nesta quinta-feira que os protestos continuarão até que a isenção da alíquota PIS/COFINS seja publicada no Diário Oficial da União. Segundo ele disse entrevista à rádio BandNews, a redução de 10% na cotação do diesel, anunciada na noite de quarta-feira pela Petrobras, não resolve a situação.

Cabe a Michel-Pato-Manco-Temer, seus assessores e conspícuos congressistas tomarem uma atitude, e com máxima urgência, pois não é admissível deixar o país paralisado por conta de um lockout como esse. No Planalto, há quem acredite que o desabastecimento de alimentos e combustíveis levará o povo às ruas, como em 2013. O temor é que, com a pressão popular, o Congresso vire uma panela de pressão e a reeleição de aliados fique comprometida. Até o início da Copa, governistas querem passar ao largo da crise. Então, por que não fazem alguma coisa?

Triste Brasil.

Atualização:

Governo e representantes de caminhoneiros anunciaram na noite de ontem um acordo para suspender greve. Mesmo assim, protestos seguem em ao menos 7 dos 26 estados e no DF. O acesso ao porto de Santos continua bloqueado, e a cidade de São Paulo não tem rodízio nem coleta de lixo. Ainda que o movimento termine hoje, levará dias até que o abastecimento e as rotinas voltem ao normal, sem mencionar os danos irreparáveis, como alimentos jogados fora, animais mortos de inanição nas estradas e pacientes que ficaram sem remédios. A conta de quanto o país perdeu nos últimos dias ainda será feita. A única já computada é a da Petrobras, que, depois que cedeu à pressão e reduziu o preço do diesel, perdeu 45 bilhões de reais na bolsa, na última quinta-feira.

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