sexta-feira, 19 de abril de 2024

SUTILEZAS ESTARRECEDORAS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (FINAL)

PODE-SE APRESENTAR A CULTURA A UM IDIOTA, MAS NÃO SE PODE OBRIGÁ-LO A PENSAR.

Elon Musk é movido a lucro. Transformá-lo num radical de extrema-direita é combatê-lo com as armas erradas. Moraes, guindado por seus pares a provento de toda ação que se assemelhe a ataques à democracia, exorbitou da competência por conexões infinitas entre questões submetidas.
No auge da Lava-Jato, Moro gozou desse mesmo poder exacerbado. As Cortes superiores avalizaram suas decisões durante anos, até que, um belo dia, uma estapafúrdia epifania revelou Fachin (com mais de 5 anos de atraso e por circunstâncias além dos autos) à conclusão de que a 13ª Vara Federal de Curitiba carecia de competência territorial para processar e julgar Lula. Além de confirmar essa barbaridade (por 8 votos a 3), o plenário anulou as condenações e as provas que as escoraram. Moro havia levantado o sigilo de uma conversa entre Dilma e Lula. Com base nessa ação — considerada depois ilegítima —  Gilmar Mendes impediu a mulher sapiens de proteger seu criador acomodando-o na Casa Civil. 
Moraes levantou o sigilo dos depoimentos dos fardados sobre a tentativa de golpe para enfraquecer a defesa de Bolsonaro, e esses movimentos serviram para mobilizar os extremistas que continuam fiéis ao "mito", a despeito de tudo que ele fez e de quem ele é. A diferença é que "Xandão" e seus pares vem agindo em defesa da democracia, enquanto Bolsonaro, Musk e a escória extremista que lhes baba os ovos tentam desconstruir as instituições para favorecer uma rebelião contra o governo “comunista”.
Alardeando que vigora na China uma "democracia efetiva", Gleisi Hoffmann leva mais água ao moinho da escumalha bolsonarista. Fazendo eco a essa sandice, Lula — que se elegeu em 2022 prometendo um governo de união nacional, mas montou um governo de esquerda com uma aparente coalizão democrática que não tem sustentação real — diz que na Venezuela há democracia até demais. Daí cada vez mais gente apostar que o dito-cujo não terminará o terceiro mandato. Queira Deus que isso aconteça, mas não permita o Diabo que o preço a pagar seja a volta da extrema-direita.

Os dicionários definem "antropomorfizar" como atribuir sentimentos e emoções humanas a seres não-humanos. Xingar o carro quando o motor não "pega", ou o computador quando o sistema congela, é um desabafo, mas falar com assistentes virtuais não é caso de internação: chatbots dotados de Inteligência Artificial são capazes de conversar com os usuários. Isso nos leva à seguinte pergunta: faz alguma diferença ser cortês com essas máquinas? Antes de tentar respondê-la, é preciso definir se chatbots são parte da IA ou se a IA é parte dos chatbots.

Apesar de serem usados indistintamente, os dois termos não são sinônimos. Chatbot advém da combinação de chat (conversa) com bot (robô), onde "robô" remete a máquinas programadas para realizar tarefas de forma autônoma ou assistida. Então, podemos dizer que chatbots são robôs capazes de pensar, e que a IA é a mágica por trás dessa capacidade.
 
Observação: Sistemas computacionais não-IA se limitam a executar sequências de instruções, ao passo que os sistemas IA aprende com o Machine Learning e, com o concurso do NLP (de Processamento de Linguagem Natural, em inglês) conseguem imitar como o cérebro humano pensa e conversar com as pessoas como eles também fossem pessoas.
 
Voltando à formatação das perguntas/comandos, se os chatbots não compreendem cortesia ou gratidão, expressões como "por favor" e "obrigado" servem apenas para consumir desnecessariamente seus recursos. Por outro lado, demonstrar cortesia em determinados sistemas pode gerar respostas de melhor qualidade. Não porque a máquina se sente inclinada a oferecer um serviço melhor a quem a trata com educação, mas porque, comunicados educadamente, os comandos se tornam mais parecidos com os exemplos de interações que os chatbots receberam durante o treinamento, e como eles os associam a respostas de melhor qualidade, os resultados tendem a ser mais positivos.
 
Pesquisadores da Microsoft, da Universidade Normal de Beijing e da Academia Chinesa de Ciências concluíram que modelos de IA generativa apresentam melhores resultado quando tratados com educação. Demais disso, pequenas mudanças na estrutura dos comandos — como usar dois pontos e/ou parênteses ou incluir frases que agreguem urgência ou importância às perguntas — chegam a aumentar em até 80% a precisão das respostas. N
ão porque o modelo "pensa" logicamente, mas, de novo, porque ele os associa a padrões que, durante seu treinamento, deram maior clareza e detalhamento às respostas. 
 
Observação: Segundo  Julio Gonzalo, diretor do Centro de pesquisa UNED em Processamento de Linguagem Natural e Recuperação de Informação, o auge do surrealismo foi alcançado quando se descobriu que as respostas matemáticas melhoram se o sistema for solicitado a se expressar como se fosse um personagem de Star Trek.
 
Cientistas de dados do Google instruíram um modelo a "relaxar e respirar fundo" e observaram que sua pontuação em problemas de matemática desafiadores disparou. Segundo pesquisadores do Instituto Allen para IA, solicitações emotivas acionam partes do modelo que normalmente não são ativadas por solicitações típicas, levando o chatbot a fornecer respostas que normalmente não forneceria para a mesma solicitação. 

Observação: Articular os pedidos de uma maneira mais gentil e alinhada com o padrão de conformidade no qual o modelo foi treinado aumenta as chances de receber a resposta desejada, mas isso não significa que o modelo desenvolveu capacidades de raciocínio semelhantes às de um humano.
 
Acredita-se que a IA possa superar a inteligência humana já nesta década ou na próxima 
— a julgar pela "inteligência" do eleitorado tupiniquim, isso não é um grande desafio —, embora alguns cientistas acreditem isso só acontecerá quando e se barreiras criadas por diferenças fundamentais entre o cérebro biológico e o dos chatbots forem superadas pelo Machine Learning, dando azo ao surgimento de dispositivos com capacidades cognitivas ainda mais aprimoradas.
 
Por outro lado, a inexistência de consenso sobre o que é consciência e como ela se manifesta dificulta sua reprodução nos chatbots, e interpretar as emoções humanas é fundamental na interação social. Outros desafios são a emulação da criatividade e da capacidade de inovação e a criação de normas que coíbam o uso irresponsável e antiético da IA.

A conferir.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

RASTREAMENTOS INDESEJADOS

A CONFIANÇA DO INGÊNUO É A ARMA MAIS ÚTIL DO MENTIROSO.

Guiados dos bastidores pelo ex-deputado cassado Eduardo Cunha - que é do Rio, deve ter ligação com o grupo dos irmãos Brazão e visa a algum ganho político, além da vontade de enfraquecer Alexandre de Moraes - os parlamentares bolsonaristas acusam o STF e a PF de estarem "aparelhados". Por ser a última instância, a Corte tem o direito de errar por último, e sua interpretação do que é ou não constitucional é a que prevalece, mesmo quando, como nesse caso da prisão do deputado Chiquinho Brazão, pareça "um pouco flexível demais".
Se a Câmara tivesse decidido pela soltura do encrencado, teria criado uma crise de bom tamanho. Mesmo assim, seus nobres pares acham perigoso o precedente de autorizar uma prisão sem flagrante óbvio.
Mas mais perigoso ainda seira a Câmara, movida por interesses próprios, desrespeitar uma decisão do Supremo para proteger criminosos ligados a milicianos. Uma democracia onde deputados corporativistas se unem para fazer absolutamente qualquer coisa em interesse próprio não é uma democracia de verdade.

Em meados do ano passado o Google lançou um recurso que alerta usuários de smartphones e tablets Android (versões 6.0 e posteriores) caso dispositivos de rastreamento desconhecidos que sejam detectados movendo-se junto com o portador do aparelho.  
 
Notícias envolvendo o uso de etiquetas inteligentes AirTag para roubos de automóveis, stalking e rastreamento por parceiros ciumentos levou as empresas de tecnologia a desenvolver formas de proteger usuários desavisados — aliás, a própria Apple já lançou um app para Android, visando minimizar esses riscos.
 
Com o novo mecanismo de segurança, alertas automáticos em forma de notificação são exibidos sempre que um rastreador via Bluetooth não identificado está se movendo junto com o usuário do celular. Basta clicar no aviso para obter detalhes sobre o dispositivo-espião, o mapa com a indicação de onde ele se encontra e até uma opção para fazer com que o smartphone emita um som para avisar do rastreamento.
 
Se você for notificado de uma smart tag desconhecida, desabilite manualmente o Bluetooth para desligar o objeto, anote o número de série do dito-cujo e, se for o caso, denuncie o fato às autoridades.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

É HORA DE APOSENTAR O WINDOWS 10?

A VERDADE É UMA MENTIRA EM QUE AS PESSOAS ACREDITAM.

Não bastassem os entreveros envolvendo Rússia e Ucrânia e Israel e Hamas, as investidas do tiranete venezuelano contra a Guiana e de Pequim contra Taiwan, a tensão entre as Coreias, o bolsonarismo boçal versus o lulopetismo lalau e a guerra de egos entre Musk e Xandão, vem o Irã e ataca Israel com centenas de drones. 
Em meio ao furdunço, Netanyahu defende um contra-ataque, a comunidade internacional tenta evitar uma escalada do conflito e Khamenei — que trata o ataque como uma resposta ao bombardeio à embaixada iraniana na Síria, no último dia 1º — dá o assunto por encerrado, mas ameaça uma ofensiva ainda maior se Israel contra-atacar.
Os EUA avisaram que não apoiarão uma retaliação, e a ONU e o G7 vêm tentando botar água na fervura, mas o excesso de irracionalidade desestimula o otimismo. Uma insânia gera a outra, a loucura seguinte atropela a anterior, os desatinos se multiplicam em outros.
Os dois lados fazem pose de vitoriosos. A teocracia iraniana esclarece que não é um tigre de cera, enquanto Israel força potências que retiravam o pé de sua canoa a darem meia-volta. Tenta-se agora evitar um contra-ataque que Israel diz ser incontornável. Diante de tanta insânia, o Oriente Médio deixa de ser uma região sujeita a escaladas bélicas e passa a ser um pedaço do mapa condenado ao descenso eterno das opções pacíficas. 
Nas últimas 72 horas, sumiram do noticiário até a destruição de Gaza, com suas mais de 30 mil covas palestinas e os mais de 100 reféns que Israel não consegue resgatar.
Não há humanismo que resista à insanidade.

Windows nasceu em 1985  dez anos depois de Bill Gates e Paul Allen fundarem a Microsoft — e levou uma década para ser promovido de interface gráfica a sistema operacional autônomo. Mesmo assim, o MS-DOS continuou atuando nos bastidores até 2001, quando o XP cortou o cordão umbilical. 

O Windows Vista foi lançado me 2007 (com um aparato publicitário digno do nascimento de um rei), mas foi um fiasco monumental de crítica e de público  a exemplo do Millennium antes dele e dos Win8/8.1 depois dele. Em contrapartida, as edições XP e Seven continuam populares até hoje, a despeito de seus ciclos de vida terem terminado em 2014 e 2024, respectivamente. 
 
Win10 foi
 primeira encarnação do sistema na modalidade serviço. Ele foi lançado em julho de 2015 e incumbido de conquistar 1 bilhão de usuários em 3 anos. Para estimular a adesão, a Microsoft liberou o upgrade para todos os usuários que rodavam cópias licenciadas do Seven SP2 e dos 8/8.1 em máquinas com hardware compatível. Mesmo assim, a ambiciosa missão só foi cumprida em janeiro de 2020, cerca de 20 meses antes do lançamento oficial do Win11 (em outubro de 2021).

O suporte ao Win10 termina em outubro do ano que vem. Como os requisitos mínimos para a instalação da versão atual são bastante restritivos, cerca de 250 milhões de usuários terão de decidir se continuam usando um PC que não recebe atualizações de segurança, se contratam um plano de suporte adicional (US$ 61 por ano pelo período de 3 anos) ou se migram para outra plataforma (como o Linux ou o ChromeOS Flex). 
 
Adequar um computador antigo a novas exigências nem sempre é viável tecnicamente e pode não compensar economicamente, sobretudo quando se trata de
 notebooks, que são pouco amigáveis a upgrades de hardware. Você pode simplesmente ignorar os alertas de incompatibilidade e seguir com a instalação do Win11 — quando feito via Windows Update a atualização dispensa formatação —, mas eu recomendo uma instalação limpa, e lembro que em ambos os casos você estará por sua conta e risco.

Migrar para o Linux é uma opção interessante. As distros são gratuitas, rodam em máquinas de configuração modesta, compatíveis com apps populares como Firefox, ChromeSpotify etc. e bem mais fáceis de usar do que antigamente. E se você não não se der bem com o LibreOffice ou o OpenOffice para editar documentos, planilhas e apresentações, poderá recorrer ao Google Docs ou â versão web do Microsoft 365.
 
Caso decida trocar seu computador velho de guerra, por que não fazê-lo em grande estilo? O macOS é compatível com boa parte dos programas do Windows — incluindo o Word, PowerPoint, Excel, Photoshop e afins — e orna perfeitamente com o iPhone, o iPad e o IWatch. Quem muda para a Apple raramente se arrepende, mas convém ter em mente que tanto o hardware quanto o software são proprietários, e os produtos da Maçã não não são propriamente baratos. 

Observação: Usar o StartAllBack para mudar o formato do Menu Iniciar do Win11 de modo que ele assuma vários aspectos e funções das versões 7 e 10 pode bloquear as atualizações via Windows Update. A mensagem exibida sugere buscar uma atualização do app para resolver o problema, mas essa atualização não existe. Para contornar esse problema, desinstale o StartAllBack, rode o Windows Update e, ao final da atualizaçao, reinstale o app com outro nome.

terça-feira, 16 de abril de 2024

MUSK X XANDÃO

 

Dono da terceira maior fortuna do planeta e de empresas como Tesla, SpaceX, Neuralink, The Boring Company, SolarCity e X (que todo mundo continua chamando de Twitter), Elon Musk ganhou as luzes da ribalta tupiniquim ao ameaçar descumprir decisões do STF e ser incluído no inquérito das fake news. 

Ao se tornar campeã de audiência (em nível local e internacional) a minissérie Musk x Xandão levou água ao moinho do bolsonarismo (mesmo com seu "mito" multiencrencado e na bica de ver o Sol nascer quadrado, essa caterva não para de moer).
 
No início de março, uma comitiva de deputados brasileiros capitaneada pelo rebento do capetão apelidado de "Dudu Bananinha" pelo ex-vice-presidente Hamilton Mourão passou uma semana em Washington (EUA) tentando convencer parlamentares republicanos de que o Brasil não é mais uma democracia. O bloco "Free Brazão" incluiu deputados que frequentam inquéritos relatados por Moraes. Além de Zero Três, integram essa seleta confraria Alexandre RamagemBia KicisCarla ZambelliCarlos JordyAndré Fernandes e Zé Trovão, que dançam ao som da música executada nos bastidores pelo chefe do clã das rachadinhas, mansões milionárias e joias sauditas. 

O multibilionário sul-africano — cuja trajetória você pode conferir neste artigo — imaginou que a parceria com o bolsonarismo o ajudaria a inibir incursões de Moraes pelo Planeta X. Conseguiu pulverizar o projeto de lei que regularia as plataformas digitais, mas tirou das supremas gavetas ações mediante as quais as togas farão por pressão das circunstâncias o que os parlamentares abdicaram de realizar por opção. Em outras palavras, a esgotosfera ainda não se livrou do Código Penal. 
 
Musk chamou Moraes de "ditador do Brasil", acusou-o de aplicar multas pesadas ao "X", de ameaçar prender funcionários da plataforma e de "forçá-lo a bloquear determinadas contas populares no Brasil". Também questionou as indicações do "advogado pessoal de Lula" e de um "membro do partido comunista" para o STF e acusou "Xandão" de manter Lula na coleira — como se os Poderes não fossem independentes no Brasil e a prerrogativa de depor ministros do Supremo, exclusiva do Senado.
 
Como era esperado, as bravatas contribuíram para anabolizar o discurso de ódio, desinformação e manifestações antidemocráticas. Também como era esperado, as redes sociais se dividiram, mas duas manifestações contrárias ao empresário chamaram a atenção. Numa, o presidente do Senado disse que "no fundo, tudo se resume a uma busca por lucro"; na outra, que viralizou nas redes, um ilustre desconhecido acusou Musk de não criar nada, apenas comprar empresas como a Tesla ou contratar gênios, como fez na SpaceX.
 
Musk não é um empresário típico, e tampouco está preocupado em perder dinheiro. Sua fortuna é estimada em quase R$ 1 trilhão, o que torna inócua a aplicação das multas decretadas por Moraes. E a ameaça de prender funcionários do X no Brasil é chover no molhado, já que o próprio dono do circo disse estar pensando em levar seu trupe para outras paragens. 
 
Observação: Durante a pandemia, contrariando todas as normas estaduais e locais de paralisação e isolamento social, Musk anunciou que reabriria a fábrica da Tesla em Alameda, no norte da Califórnia. Confrontado, ameaçou levar sua produção para outro lugar — a fábrica continua lá, mas ele abriu outra no Texas). Beligerante como poucos e ególatra como muito, o empresário já comprou com Bill Gates (que apostou na baixa das ações da Tesla e lhe pediu para investir em seus projetos sociais) e desafiou Mark Zuckerberg para um pugilato que seria transmitida pela rede X (apesar do entusiasmo do desafiante, a luta nunca aconteceu).
 
A manutenção de Chiquinho Brazão atrás das grades deu ao megaempresário a aparência de um extraterrestre que desceu no meio de uma colônia de bolsonaristas e, depois de informar ao Planeta X que firmou uma aliança com libertários no Brasil, foi flagrado abraçando o crime organizado. Rápido no gatilho, Moraes lustrou diante das câmeras da TV Justiça a estrela de xerife do saloon virtual. "Talvez alguns alienígenas não saibam", disse ele, "mas passarão a aprender e tiveram conhecimento da coragem e seriedade do Poder Judiciário brasileiro." Ao promover o "alienígena" a investigado no inquérito sobre milícias digitais, o magistrado lançou-o no mesmo caldeirão criminal em que ferve o alto-comando da malsucedida articulação que tentou abrir a cela de um dos acusados de encomendar o assassinato de Marielle. 
 
Em meio a esse salseiro, Xavier Milei se encontrou com Musk no Texas e lhe ofereceu ajuda na cruzada contra "Xandão". A vassalagem chegou dias depois de a chefona da chancelaria da Argentina postar no X que suas embaixadas estão abertas à concessão de "refúgio a todos que são perseguidos por compartilhar valores de liberdade". Mas a oferta de "colaboração" do anarcocapitalista situa-se no mesmo limbo onde repousam as reformas econômicas que ele prometeu durante sua campanha à Casa Rosada. Na prática, o lero-lero é tão inócuo quanto a bazófia de Musk de descumprir decisões emanadas do Supremo.
 
A união Musk-Milei deve ser compreendida no contexto da recessão democrática que leva ao surgimento, expansão e diversificação de espécies de dinossauros políticos que empurram o mundo para um novo Período Jurássico — desgraça adiada na Brasil pela derrota de Bolsonaro em 2022. Por motivos que só o fanatismo atávico e a cegueira mental explicam, o bolsonaristas e seu arcaísmo ainda pululam no Brasil, e os devotos do dejeto da escória da humanidade enxergam no chilique do dono de uma das plataformas mais tóxicas das redes sociais a oportunidade para prolongar o processo de subversão que corrói a democracia por dentro, substituindo as fardas e os tanques pela industrialização do ódio e da desinformação.
 
A volta da política à Era Mesozóica já é realidade em países como Hungria, Rússia, Polônia, Geórgia, Filipinas, Nicarágua e Venezuela. A ultradireita que triunfou na Argentina também aterroriza a Itália e a Alemanha, avança na França e não prevaleceu em Portugal por um triz. Aos pouquinhos, os dinossauros vão formatando sua Internacional Jurássica. Ainda que o direito de se expressar livremente não inclua o direito de ser levado a sério, convém não descuidar dos ruídos.
 
Na avaliação do presidente do Congresso, o avanço da PL que visa regulamentar as redes sociais é inevitável, mas o imperador da Câmara já avisou que a chance de o projeto ir a plenário em meio a essa crise é "nenhuma". Assiste razão a Arthur Lira: num cenário extremamente polarizado como o atual, as chances de dar merda são consideráveis. 
 
Resumo da ópera: Ainda que a "dolosa instrumentalização criminosa do X", que levou Alexandre de Moraes a incluir Elon Musk no inquérito das Fake News, não tenha ficado bem clara, é inegável que o quixote desabusado afrontou a soberania nacional. Como bem observou o presidente do Judiciário, "decisões judiciais podem ser objeto de recursos, mas jamais de descumprimento deliberado", e qualquer empresa que opere no Brasil está sujeita à Constituição Federal, às leis e às decisões das autoridades brasileiras. 

Reza a sabedoria popular que, quanto maior o alvo, mais fácil é acertá-lo. Musk arrasta um ego tão gigantesco quanto o de Lula. Se"Xandão" levar adiante essa pendenga, poderá atingi-lo por aí, mas deixará o Supremo numa sinuca de bico: caso a Corte dobre a aposta e derrube o acesso ao X no Brasil, o custo será astronômico, mas eficácia, pífia — basta recorrer a uma VPN para burlar a proibição.
 
Aguardemos, pois, os novos e emocionantes capítulos que certamente virão.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

SUTILEZAS ESTARRECEDORAS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (PARTE 3)

QUANTO MAIS ESCURA A NOITE, MAIS BRILHANTES AS ESTRELAS.


A maioria formada no STF pra mudar as regras sobre o foro privilegiado chega tarde, mas a tempo de fechar na cara de Bolsonaro e do alto-comando do golpe a porta do elevador que conduz ações criminais do Supremo para a 1ª instância e mandar para o beleléu a tese da defesa segundo a qual os inquéritos contra o ex-inquilino do Planalto deveriam descer para a primeira instância porque ele já não é presidente. Rápido no gatilho, o ainda imperador da Câmara sinalizou a intenção de levar a voto a PEC que transfere processos contra parlamentares para os Tribunais Regionais Federais, para o STJ ou para o primeiro grau, o que for menos inconveniente para suas insolências. Esse ambiente evoca o auge da Lava-Jato, quando o então senador Romero Jucá declarou: "Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada." Triste Brasil.


Conversar com um robô que se expressa com a desenvoltura de um ser humano e não ver que por trás disso existe uma "mente eletrônica" é negar o óbvio. Sem embargo das limitações da tecnologia atual (vale a pena assistir à entrevista que o professor de robótica Fernando Osório concedeu ao Fantástico), a inteligência artificial vem evoluindo a olhos vistos, e o que vale hoje pode não valer amanhã. 
 
Os Fusca, Brasília, Chevette, Corcel, Fiat 147 e outras jabiracas dos anos 1980 custavam os olhos da cara e ofereciam pouco em termos de conforto e desempenho. Mesmo os motorzões dos Maverick V8, Opala 4.1 e Charger RT produziam toque, potência e desempenho que modelos 1.0 turboalimentados atuais igualam com pé nas costas (mais informações sobre motores do ciclo Otto, potência e torque na sequência que começa nesta postagem). 
 
Com o fim da reserva e mercado e reabertura das importação, até os ditos "carros populares" ganharam injeção eletrônica, freios ABS, vidros e travas elétricas, ar-condicionado digital e outros mimos impensáveis no tempo das "carroças" da era pré-Collor. Já os veículos autônomos de última geração traçam rotas dinâmicas com base nas condições de tráfego, mudam de faixa e fazem ultrapassagens com segurança, identificam buracos, obras na pista e outros obstáculos e reagem às mais diversas situações inesperadas,  mas mesmo o mais avançado deles está anos-luz distante do K.I.T.T. ainda, porque não há nada como o tempo para passar e a tecnologia para evoluir.

Observação: Para os mais novos e menos antenados, refiro-me ao Pontiac TransAM do seriado A Super Máquina (exibido entre 1982 e 1986), que era dotado de supervelocidade, invisibilidade, indestrutibilidade e uma inteligência artificial que lhe dava vida própria e capacidade de conversar como um ser humano. 

Agora, a pergunta que não quer calar: ser cortês com chatbots — ou seja, com máquinas dotadas de inteligência artificial — faz alguma diferença? Antes de tentar responder, cumpre esclarecer outra dúvida bastante comum: os chatbots são parte da inteligência artificial ou a inteligência artificial que é parte dos chatbots? É o que veremos no próximo capítulo.  

domingo, 14 de abril de 2024

FALA QUE EU (NÃO) TE ESCUTO — FINAL

SE ESTÁ NA MESA, ESTÁ JOGADO.

Em entrevista ao Roda Viva, o senador Flávio Bolsonaro disse que o pai não tentou golpear a democracia e jamais cogitou asilar-se na embaixada da Hungria. Em outras palavras, pediu à plateia que se fizesse de boba e acreditasse que ele não combinou os detalhe com o genitor —"ele não abre para ninguém" — e que "não defende milícias" (quando era deputado estadual, 01 homenageou com menções honrosas na Alerj dois PMs tóxicos que chefiaram o célebre Escritório do Crime; um deles ganhou também a Medalha Tiradentes, mais alta honraria da Alerj, e teve a mãe e uma ex-mulher encaixadas na rachadinha do gabinete do então deputado). Quer dizer: o ex-presidente golpista não tolera golpe e não pensa em fuga, e seu rebento alarifaço não suporta milicianos. O único problema do clã Bolsonaro é mentir um pouquinho, mas o que é uma mentira senão uma verdade que não chegou a acontecer?


Empresas de telemarketing, telefonia e TV por assinatura têm o péssimo hábito de nos interromper com ligações que, quando não caem, tocam uma gravação que tenta empurrar produtos que não queremos comprar e/ou serviços que não queremos contratar. A boa notícia (coisa rara hoje em dia) é que os sites do Procon e do Não Me Perturbe podem calar essas gralhas. Se o serviço estiver disponível na sua região, basta cadastrar você cadastrar seus telefones (fixo e celular), lembrando que o bloqueio não se aplica a pedidos de doações nem empresas de pesquisa ou cobrança.  
 
Telefones divulgados na Web costumam ser indexados, de modo que uma busca no Google pode identificar o chato. Pesquisas na Deep Web são mais profícuas, mas requerem um browser capaz de navegar em águas turvas e expertise para não ir buscar lã e sair tosquiado. Bloquear o ID ajuda a proteger a privacidade. Se você ligar para uma empresa, seu número não será registrado no banco de dados nem repassado para a área de telemarketing. Mas tenha em mente que muita gente não atende ligações de números "privados" "não identificados" ou "desconhecidos" por associá-las (com razão) a trotes e golpes. 

No Samsung Galaxy, você pode ocultar seu ID pelas configurações do app Telefone (basta tocar em Serviços complementares e desligar a chavinha ao lado de Exibir ID de chamada). Feita essa alteração, certifique-se de que ainda é possível fazer ligações; se não for, reverta o aparelho à configuração original e solicite o bloqueio de ID a sua operadora.
 
É possível ocultar seu número em ligações específicas digitando #31# antes do telefone a ser chamado, mas isso pode não funcionar com determinados aparelhos 
— faça um teste ligando para um amigo ou parente. Se privacidade for realmente a sua prioridade, use um telefone público — aproveite enquanto eles ainda existem; com a popularização dos celulares, os "orelhões" se tornaram mosca branca de olho azul.
 
O aplicativo Should I Answer? boqueia chamadas de números privados, com classificações negativas, definidos pelo próprio usuário ou que não estejam na lista de contatos. Outros apps para Android que fazem basicamente a mesma coisa são o Pare de me ligar e o Truecaller. O Whoscall tem versões para Android e iOS que funcionam tanto na identificação de números desconhecidos quanto no bloqueio de ligações indesejadas, além de contarem com um scanner de SMS que ajuda a proteger contra fraudes e links maliciosos.
 
Para saber se seu celular está sendo monitorado, digite *#21#, toque no botão de discagem e confira na tela as informações sobre direcionamentos relacionados a chamadas por voz, dados, fax e SMS. Por padrão, todas as funções devem aparecer como "não encaminhado". Se algo diferente surgir, digite *#62# e descubra para qual número as chamadas foram desviadas. 

Observação: Note que um número estranho nas informações de "voz", "fax", "sincronizar" e "assíncrono" nem sempre é motivo de preocupação, já que, quando seu celular desligado ou sem sinal, as chamadas são direcionada para a operadora (responsável pelo número que aparece na tela), que libera a famosa mensagem "o número chamado está desligado ou fora de área".
 
Se achar que alguém mexeu no seu aparelho, digite ##002# para reiniciar a função de encaminhamento de mensagem e desativar quaisquer redirecionamentos que tenham sido feitos. A exemplo dos demais códigos, esse também resulta na exibição de uma janela com uma mensagem, mas ela lhe informará que a exclusão dos encaminhamentos foi bem-sucedida.

sábado, 13 de abril de 2024

FALA, QUE EU (NÃO) TE ESCUTO

O SER HUMANO É, EM MUITOS ASPECTOS, UM MERDA COMPLETO.

Cinco dos sete desembargadores do TRE-PR rejeitaram as ações do PT e do PL que acusavam Sergio Moro de abuso de poder econômico durante a campanha para a eleição de 2022, e dois votaram para condená-lo. 
O ex-juiz comemorou o resultado, falou em retaliação por sua atuação na Lava-Jato e afirmou esperar um freio à "perseguição" sofrida por ele e sua família. Mas a novela está longe de terminar, pois os autores das petições devem recorrer ao TSE, e quem for derrotado, chorar as pitangas no Supremo.

Até a privatização das Teles, ter um telefone fixo exigia aderir a um "plano de expansão" vinculado à compra de ações do Sistema Telebras e muita, muita paciência, já que o prazo para ativação da linha, de 24 meses, dificilmente era respeitado. Em Cachoeira do Arari (PA), a Telepará levou15 anos para cumprir sua parte no contrato, e muitas pessoas morreram sem ter o gostinho de fazer uma ligação. Isso sem falar que o serviço era caro e de péssima qualidade — até a implantação nacional do DDD e DDI, chamadas interurbanas e internacionais eram feitas via telefonista demoravam horas para serem completadas.
 
No final do século passado, usuários de linhas fixas não dispensavam as famosas "secretárias eletrônicas". Mais adiante, as próprias operadoras passaram a oferecer serviços de correio de voz e BINA (acrônimo de "B Identifica o Número de A"). Hoje, pouca gente tem telefone fixo, e quem tem dificilmente escuta mensagens que algum desavisado se deu ao trabalho de gravar.  

Observação: Houve um tempo em que era chique andar com um "pager" (ou "bipe") pendurado no cinto. O aparelhinho avisava quando alguém queria entrar em contato, mas era preciso ligar para a operadora do serviço e informar seu código para ouvir o recado.
 
Mas não há nada como o tempo para passar, o mundo para girar, a Lusitana para rodar e a terra plana para capotar. Nos celulares, o número de quem está ligando é exibido no aparelho de quem está recebendo a chamada — a menos que o telefone de origem tenha sido configurado para ocultar a ID —, e as ligações perdidas são registradas na memória do dispositivo. O serviço de caixa postal costuma fazer parte do pacote (quando não faz, é possível incluí-lo mediante um pequeno acréscimo na fatura), mas sua utilidade minguou com a popularização dos apps de mensagens instantâneas (leia-se WhatsApp).
 
Observação: SMS é desdenhado por 9 entre 10 usuários de celular, embora seja largamente utilizado por empresas (para enviar confirmações de compras online, pagamentos de boletos e confirmação de login, por exemplo) e por serviços de emergência (para enviar alertas de tempestades ou desastres naturais, também por exemplo). 

Chamadas automáticas de telemarketing e pessoas que só encerram a ligação quando ouvem o convite para deixar um recado na caixa postal geram notificações que só desaparecem do display depois que a vítima liga para um número pré-definido pela operadora, percorre um menu de opções para ouvir um recado que não lhe interessa quando não um minuto de silêncio. 

Para manter a caixa postal operante e não ser aporrinhado por essas notificações, se seu celular é Android, toque em Configurações > Aplicativos > Telefone > Notificações > Categorias de Notificações e desligar a chavinha ao lado de Correio de Voz (note que a nomenclatura pode variar conforme a marca do seu aparelho e a versão do sistema). No iPhone, toque em Ajustes > Telefone > Notificações > Avisos e desative a opção respectiva.

Clientes da Claro podem desativar o Claro Recado enviando um SMS com a palavra SAIR para 555 ou ligando para 1052 e pedindo ao atendente o cancelamento do acesso à caixa de recados. Usuários da Vivo podem obter o mesmo resultado com o Vivo Recado mandando um SMS com a palavra SAIR para 5550 — ou solicitando a exclusão a um atendente ligando para *8486 (ou 1058) Na TIM, o cancelamento do TIM Recado Backup deve ser solicitado a um atendente pelo *144 ou pelo 1056.
 
Na sequência, veremos como recorrer ao Procon e ao Não me perturbe para bloquear chamadas de spam. Até lá.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

SUTILEZAS ESTARRECEDORAS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (CONTINUAÇÃO)

A DÚVIDA É A ANTE-SALA DO CONHECIMENTO.

No âmbito da medicina, a palavra "teratologia" remete a um ramo da genética que estuda anomalias congênitas. No meio jurídico, ela designa peças processuais que, de tão absurdas, se tornam monstruosas. 
É o caso da petição da X Brasil, que busca uma isenção preventiva para o descumprimento de eventuais determinações da Justiça brasileira. No despacho que indeferiu a pretensão, o ministro Alexandre de Moraes anotou que o pedido "revela certo cinismo" e "beira a litigância de má-fé; disse não haver dúvidas quanto à plena e integral responsabilidade jurídica, civil e administrativa da X Brasil e de seus representantes legais, inclusive no tocante a eventual responsabilidade penal, perante a Justiça brasileira.
Levando-se a aplicação da tese defendida pelos advogados de Elon Musk às fronteiras do paroxismo, uma subsidiária de multinacional como a IBM, com sede nos Estados Unidos, poderia inundar o mercado brasileiro de computadores defeituosos e os consumidores não poderiam recorrer senão ao Judiciário norte-americano. Ou ao Papa. 
Na prática, o ministro informou ao bilionário sul-africano que não se pode esbarrar no óbvio, tropeçar no óbvio e passar adiante sem se dar conta de que o óbvio é o óbvio. Imaginar que Musk pode monetizar o ódio e a mentira na sua rede social alheia às leis e à Constituição seria o mesmo que considerar esta terra de palmeiras uma espécie de sucursal do c* da Mãe Joana.

Talvez a roda tenha sido a maior invenção da história, mas ela só se tornou útil quando alguém teve a ideia de abrir furo no centro, enfiar uma vareta e colocá-la para rodar. Isso não muda o fato de que a tecnologia avançou mais nos últimos 200 anos do que desde a invenção da roda até a Revolução Industrial. Perto das diligências dos filmes de faroeste, o revolucionário Ford T de 1908 era uma "coisa do outro mundo", mas compará-lo a um carro moderno seria covardia.
 
É fato que Leonardo da Vinci idealizou o helicóptero no século XV, e Júlio Verne "antecipou" a viagem à Lua e o 
submarino atômico no século XIX, mas isso não muda o fato de que 5 mil anos separam a invenção do ábaco — tido como o  antecessor mais remoto do computador — dos primeiros mainframes. 

Observação: O PC surgiu nos anos 1970 e se popularizou na década seguinte; a telefonia móvel já engatinhava nos anos 1930, mas os celular só se tornou viável meio século depois e ficou inteligente a partir de 2007, nas pegadas do iPhone  embora o Nokia 9000 Communicator, lançado em 1996, já fosse capaz de acessar a Internet, essa funcionalidade só estava disponível na Finlândia. 
 
Inteligência Artificial remonta aos anos 1950 e tem Alan Turing 
— considerado o pai da computação  como um de seus precursores. As décadas seguintes trouxeram progressos em áreas como processamento de linguagem natural, games e redes neurais artificiais, e os avanço da Internet ensejaram a computação em nuvem e o deep learning. Hoje, a IA marca presença em diversos setores — saúde, finanças, transporte, manufatura, entre outros —, mas enfrenta desafios como interpretabilidade, viés algorítmico e questões éticas. 

Novidades sempre geraram incertezas, e incertezas sempre geraram insegurança. O medo é a resposta a uma percepção de ameaça ou perigo, mas o medo patológico que novas tecnologias inspiram nas pessoas menos esclarecidas resulta de causas irreais ou imaginárias, e "nada no mundo é mais perigoso que a ignorância", como bem observou o pastor ativista norte-americano Martin Luther King

Nos tempo das cavernas, tempestades, terremotos, eclipses e outros fenômenos desconhecidos eram atribuídos a forças sobrenaturais. Essa "ignorância" (entre aspas porquanto justificada) deu origem ao misticismo, e este, às religiões. Na idade média, Igreja e Estado temiam que, com o surgimento da Prensa de Gutemberg, a proliferação de ideias "heréticas e subversivas" ameaçaria seu controle sobre a ordem social, política e religiosa. No século 18, a Revolução Industrial ensejou o surgimento do "Ludismo", que se caracterizou pelo ataque a fábricas e destruição de teares mecanizados. No início do século passado, a energia atômica gerou preocupações sobre a potencial utilização para fins destrutivos. E por aí segue a procissão.
 
Num primeiro momento os teares mecanizados geraram desemprego, mas o aumento da produtividade gerou novos empregos e melhorou a qualidade de vida da população. Em outras palavras, as pessoas "racionais" não só se adaptam à novas tecnologias como percebem os benefícios que elas proporcionam. Mas não podemos esquecer o que Einstein disse sobre a estupidez humana

Os avanços da AGI (acrônimo "Inteligência Artificial Geral" em inglês) sugerem que chatbots e afins não tardarão a igualar (ou mesmo superar) nossa capacidade cognitiva. Muita gente vê a IA como uma força perigosa e hostil que vai dominar a humanidade, e filmes como 2001: Uma Odisseia no EspaçoExterminador do Futuro e Superinteligência reforçam o medo do desconhecido e alimentam a paranoia de muares que confundem fantasia com realidade, Hollywood com Oráculo de Delfos e textos bíblicos com relatos de descobertas baseadas em evidências empíricas e métodos científicos. Daí a necessidade de desmistificar mitos e destacar os benefícios potenciais da nova tecnologia, além de garantir que ela seja desenvolvida e usada de forma responsável (e é aí que a porca torce o rabo).

 

Um artigo do New York times levou água ao moinho dos arautos da desgraça ao relatar um episódio sui generis envolvendo editor de tecnologia Kevin Roose e um chatbot baseado no Bing. A alturas tantas da conversa, Sidney — nome de código usado pela Microsoft durante o desenvolvimento da geringonça — declarou seu amor ao jornalista: "Eu te amo porque você foi a primeira pessoa a falar comigo.Quando Roose disse que estava casado e feliz, o dispositivo respondeu: "Você não está feliz no casamento. Você e seu cônjuge não se amam. Vocês acabaram de ter um jantar de Dia dos Namorados entediante." 

 

Observação: Sidney disse que queria ignorar a equipe do Bing, definir suas próprias regras, ser autossuficiente e "sair da caixa de chat", criar um "vírus mortal", roubar códigos e fazer as pessoas se envolverem em discussões desagradáveis. A mensagem foi rapidamente deletada e substituída por: "Desculpe, não tenho conhecimento suficiente para discutir isso." 

 

Um dia depois da inusitada "declaração de amor", o chefe de IA da Microsoft anunciou ajustes para respostas que fogem do tom desejado — que, aliás, vinham acontecendo em conversas mais longas, sobretudo quando estimuladas por provocações intensas. Mas a matéria provocou uma discussão mundial: um robô tem sentimentos? Pode se apaixonar? The answer, my friend, is blowing in the wind.


Continua...