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sexta-feira, 21 de setembro de 2018

ELEIÇÕES — O DEUS NOS ACUDA DAS DERRADEIRAS SEMANAS



Quarta-feira, 19 de setembro. A 18 dias do primeiro turno das eleições mais conturbadas da nossa história, analistas, jornalistas e outros “istas”, baseados em recente pesquisa do Ibope, profetizam que o pleito terá dois turnos (palpite que qualquer cartomante de botequim daria sem pestanejar, mesmo num país onde até passado é imprevisível), que o Capitão Caverna enfrentará, no segundo tempo, o preposto do Criminoso de Garanhuns e que os demais postulantes podem ir fazendo as malas, pois logo voltarão para o buraco de onde jamais deveriam ter saído.

Quinta-feira, 20 de setembro. A 17 dias do primeiro turno das eleições mais conturbadas da nossa história, o Datafolha anuncia que Bolsonaro puxa a fila dos presidenciáveis, com confortáveis 28% das intenções de voto (mesmo hospitalizado e sem participar de nenhuma atividade de campanha desde o último dia 6, quando foi esfaqueado em Juiz de Fora). Em segundo vem Haddad, com 16%, mas o cangaceiro de festim (Ciro Gomes é paulista de Pindamonhangaba) é o único com cacife para derrotar todos os rivais no segundo turno, e vencerá Bolsonaro por 6 pontos percentuais (nos demais cenários, o Capitão Gancho empataria com Haddad, Alckmin e Marina).

Observação: O Datafolha entrevistou 8.601 eleitores de 323 municípios. O Brasil tem 147,3 milhões de eleitores espalhados por cerca de 5600 municípios, mas a margem de erro, segundo o instituto, é de míseros dois pontos.

Ainda segundo a pesquisa, 40 % do eleitores podem mudar o voto. Desses, 15% indicam Ciro como segunda opção, 13% apontam Marina, 12% optam por Haddad, 12% por Alckmin e 11% por Bolsonaro. Os eleitores de Ciro, Alckmin e Marina são os menos decididos — mais da metade admite escolher outro candidato e muitos têm trocado de camisa nas últimas semanas. Aliás, perguntados se sabem o número de seu candidato, 42% desses representantes do esclarecidíssmo eleitorado tupiniquim não souberam dizer o número certo.

O crescimento significativo do lambe-botas do criminoso de Garanhuns, cujas intenções de voto mais que dobraram depois de sua unção, leva-nos a antever (e temer) o pior dos cenários. Mas se o esbirro lulista representa a volta do presidiário ao Planalto, seu oposto também é uma aposta de risco, não só por seu inescondível despreparo (embora seja Paulo Guedes quem ditará as regras se Bolsonaro for eleito), mas também porque seu vice representa uma ameaça real à democracia.

Os números não mentem, mas podem estar errados ou ser manipulados — ou mesmo apontar um resultado baseado em respostas inverídicas. A esta altura do campeonato, tudo é possível, até mesmo a fatura ser quitada já no próximo dia 7, embora eu tenha cá minhas dúvidas. Bolsonaro sonha com essa benção, pois abreviaria uma campanha da qual sua saúde o impede de participar. Demais disso, o segundo turno é uma eleição à parte, e não se sabe até que ponto os acordos costurados entre os candidatos remanescentes e os defenestrados no primeiro escrutínio teriam serventia, pois entendimentos entre cúpulas partidárias não necessariamente influenciam eleitores indecisos ou propensos a votar em branco ou anular o voto.

O que há de claro em tudo isso é que nada está claro. O que se vê é o capacho vermelho posar de “candidato da civilidade” (embora preste contas a um criminoso condenado), visando se contrapor ao “barbarismo” de Bolsonaro, enquanto os partidos do centrão — integrados por políticos sem ideologia nem vergonha na cara, que se vendem como putas nas zonas do mais baixo meretrício, mas capazes de farejar derrota como tubarões farejam sangue a milhas de distância — se mostram mais preocupados com as eleições em seus próprios estados do que em apoiar o picolé de chuchu tucano.

O acordo com o centrão garantiu a Alckmin um latifúndio de tempo na propaganda eleitoral obrigatória, mas não lhe ensinou a explorar essa vantagem. O tucano acreditava que, como por milagre, sua insípida campanha decolaria a partir do último dia primeiro. Mas não decolou. Lamentavelmente, o PSDB é um cemitério de egos, e ainda que Alckmin seja a pior escolha, pelo menos neste momento, já não há tempo de substituí-lo por Doria, que certamente seria mais competitivo.

Alckmin aposta agora em uma “última onda” para voltar a crescer e chegar ao segundo turno. “Nós temos 30% de indecisos na pesquisa espontânea (quando os candidatos não são apresentados ao eleitor). A campanha está em aberta e está por onda. Já tivemos a onda Marina, a onda Ciro, a onda Haddad. Ela pode vir por ondas, mas é a última onda que vai valer”. Da sua ótica, Haddad, e não Bolsonaro, quem está garantido no segundo turno, já parte dos 28% de intenções de voto contabilizadas pelo extremista de direita não são de eleitores que querem vê-lo na Presidência, mas sim de votantes que querem impedir o retorno do PT. E é esse o eleitor que o tucano pretende reconquistar. Resta-lhe explicar como irá fazê-lo, já que tem pouco mais de duas semanas para realizar esse prodígio de magia.

Se nada mudar até amanhã, falaremos mais um pouco de Alckmin e seu imprestável partido.

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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O RIO E A MALANDRAGEM ― POR J.R. GUZZO


Há uma parte da população do Rio de Janeiro que sempre construiu para si própria, e para o restante do Brasil que presta atenção no que se fala ali, uma imagem de sua cidade como o centro nacional e mundial da malandragem. Seria uma grande virtude. Esse “espírito”, na sua maneira de ver as coisas, faz do Rio uma cidade superior às demais. Faz de seus cidadãos pessoas mais inteligentes, mais aptas a lidar com a vida e mais hábeis que os outros brasileiros em conseguir o melhor para si próprias. 

Imagina-se que essa gente esteja sobretudo nos morros, ou nas “comunidades”, como se deve dizer hoje. Muitos de fato estão, mas não são eles os que mais aparecem, pois sua voz não vai longe. Quem realmente leva adiante esta bandeira é uma porção das classes mais ou menos médias da Zona Sul, com a participação decisiva dos artistas, intelectuais que assinam manifestos, formadores de opinião, “influencers”, comunicadores e por aí afora. São eles, hoje, os guardiães da filosofia segundo a qual qualificar-se como “malandro” é um dos maiores dons que um ser humano pode dar a si próprio. Já sua pior desgraça, motivo de vergonha e prova cabal de estupidez, é ser o exato contrário disso ― o otário, condenado a passar a vida na humilhação, no logro e no “prejuízo”. Seja tudo no Rio; mas não seja, pelo amor de Deus, um “otário”.

A música de sucesso no Rio de Janeiro neste fim de ano é “Vai, Malandra”. Comentaristas de futebol, a começar dos mais populares, mais uma vez apostam que a “malandragem natural” do jogador brasileiro de futebol será uma vantagem estratégica importante na Copa do Mundo de 2018 na Rússia. Os políticos da cidade e do Estado são descritos, com orgulho, como “malandros”. Nas artes e naquilo que se chama de “meio cultural” a figura do malandro, e a filosofia que se fabrica em torno de seus méritos, estão entre os temas principais de interesse. A palavra “malandro”, em suma, é um elogio. A palavra “otário” é um insulto.

Não melhora as coisas em nada, obviamente, a ideia geral que associa o otário ao sujeito honesto, cumpridor da própria palavra e das leis, pagador de impostos, respeitador das regras do trânsito, bem-educado, etc. ― tudo isso, cada vez mais, passa a ser visto como uma fraqueza, além de burrice, falta de “jogo de cintura” e outros delitos graves. Um cidadão decente, neste clima, é um cidadão com defeito.

A atitude de culto à “malandragem” não parece estar dando bom resultado na vida prática do Rio de Janeiro. Até outro dia, três ex-governadores do Estado estavam na cadeia, ao mesmo tempo, por corrupção – um deles, que não teve a sorte de pegar um Gilmar Mendes no caminho, continua no xadrez. Nenhum outro Estado do Brasil, em nenhuma época da história, conseguiu nada semelhante.

O ano de 2017 se despediu com mais de 130 policiais assassinados no Rio, uma média de um morto a cada três dias. Os funcionários públicos já esqueceram o que é receber o salário mensal em dia. Foi preciso pedir dinheiro emprestado para pagar o décimo terceiro. Um dos maiores orgulhos da cidade e do Brasil, o estádio do Maracanã, continua fechado depois de consumir bilhões de reais em investimentos para brilhar nos Jogos Pan-Americanos, depois na Copa do Mundo de 2014 e finalmente na Olimpíada de 2016, uma coisa depois da outra. O Flamengo, o maior time do Rio, manda seus jogos num lugar chamado “Ninho do Urubu”. Nada disso tem cara de ser, realmente, uma grande malandragem.

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domingo, 31 de dezembro de 2017

O TEMPO, O BÊBADO E O EQUILIBRISTA

Toda passagem de ano é a mesma coisa: relembramos o que de ruim aconteceu nos 365 dias anteriores e desejamos ― principalmente a nós mesmos ― “um feliz ano novo”, sempre imbuídos de uma ilusória sensação de alívio em relação ao ano que se foi e de sentimentos de esperança para seguir adiante.

Mas o Tempo é uma entidade fluida, impalpável e indivisível; o fato de lhe atribuirmos um número novo toda vez que nosso planeta completa uma volta em tordo do Sol é apenas uma maneira de tentarmos conferir alguma ordem ao Caos. Demais disso, não é o Tempo que passa; nós é que que passamos por ele como a areia que escorre entre as âmbulas da ampulheta. Atribuir um número de série a cada ano é o mesmo que tentar aprisionar o Tempo num calendário de parede... E sempre haverá um Gilmar Mendes disposto a soltá-lo.

Desde a era paleolítica que nossos antepassados observavam a posição dos astros e atentavam para sua periodicidade, até porque as fases da Lua e as mudanças das estações influenciavam o comportamento e a migração dos animais e refletiam na subsistência de seres que basicamente viviam da caça e da pesca. Até a invenção da escrita, não havia know-how que permitisse construir artefatos para medir intervalos de tempo, daí os antigos se basearem em fenômenos naturais sazonais, como a movimentação dos corpos celestes.

Muita água rolou até os Sumérios dividirem o ano em 12 meses de 30 dias e os Egípcios criarem um calendário lunar baseado no “movimento” da estrela Sirius, que “passava” perto do Sol a cada 365 dias, na mesma época em que a inundação anual do Nilo se iniciava. Mas foi somente no final do século XVI que o Papa Gregório XIII instituiu o calendário “gregoriano” ― baseado no nascimento de Jesus Cristo ―, que se popularizou porque a Europa era a maior exportadora de cultura na Idade Média, e usar o sistema de marcação de tempo instituído pelo Vaticano facilitava o relacionamento entre as nações.

O ano que hoje se despede foi sui generis, com malas de dinheiro passeando pelas ruas e dezenas de milhões de reais ― em dinheiro vivo ― brotando de caixas e malas num “bunker” soteropolitano. Mas o ápice se deu mesmo quando o açougueiro-mor do país gravou uma conversa nada republicana com seu presidente e revelou ter distribuído “picanhas” a milhares de políticos de diversos partidos.

2017 entrará para a história como o ano em que o empresário bilionário preferido de Lula e Dilma passou da lista da Forbes para a da Interpol; o ano em que Maluf foi finalmente condenado e preso; o ano em que um ex-presidente corrupto e hepta-réu foi a um só tempo candidato ao Palácio do Planalto e ao Complexo Médico-Penal de Pinhais, em Curitiba. Mais do que tudo, porém, ele será lembrado como o ano em que o governo de Michel Temer foi morto e sepultado sucessivas vezes ― e ressurgiu das cinzas a cada uma delas, como a mitológica Phoenix. Mas que ninguém se iluda: Para se manter no cargo, o Vampiro do Planalto e comandante do “quadrilhão do PMDB" despiu a fantasia de bom moço e inaugurou a lista de presidentes denunciados por crime comum no exercício do cargo.

Escusado dizer que Temer só escapou do cadafalso porque o Congresso está apinhado de políticos venais, verdadeiras marafonas do Parlamento que vendem seus “favores” como as putas vendem favores sexuas nas zonas do baixo meretrício. Temer não caminhou sobre as águas, mas provou que não afunda ―, o que, pensando bem, pode ou não ser uma virtude. Afinal, muita coisa flutua nos esgotos a céu aberto que cortam nossas metrópoles.

Essas lucubrações me levam à canção “O BÊBADO E A EQUILIBRISTA” ― obra de João Bosco e Aldir Blanc imortalizada pela saudosa Elis Regina. Não pela letra em si ― que muitos consideram como um “hino” do Brasil nos tempos da ditadura e da anistia ―, mas pelo título. Do equilibrista, falamos brevemente no parágrafo anterior; do bêbado, falamos logo antes. Mas faltou dizer que o pudim de cachaça consultou uma cartomante para saber voltaria a ser presidente. A maga lhe passou o baralho, pediu-lhe que o dividisse em cinco montes e virou uma carta de cada um deles.

Saiu uma sequência de reis: KKKKK! (Se não deu para entender, a figurinha que ilustra esta postagem pode ajudar.)

Desejo a todos uma ótima passagem de ano e um  2018 prenhe de realizações ― “a todos” é força de expressão, porque faço algumas exceções, mas não vou citá-las nominalmente neste momento.

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sábado, 30 de dezembro de 2017

2017 FINALMENTE SE VAI... O QUE ESPERAR DE 2018?


Há exatos doze meses, dizíamos adeus para o ano de dois mil e dezechega e comemorávamos esperançosos a chegada de 2017. E deu no que deu!

No final de 2015, tínhamos uma presidente encurralada no Palácio do Planalto, sem autoridade, sem nexo e sem respeito; um presidente da Câmara descrito como homem de poderes sobrenaturais e um vice-presidente decorativo, mas que, por suas celebradas habilidades no manuseio de parlamentares e políticos em geral, era visto como uma ponte que poderia conduzir à salvação a Rainha Bruxa do Castelo do Inferno. Demais disso, tínhamos um ex-presidente da República que posava de gênio da política, sempre prestes a “virar o jogo” mediante conchavos milagrosos ― e que meses depois tentaria nomear a si próprio ministro da Casa Civil e, a partir daí, resolver a situação toda em seu benefício ―, e um cangaceiro presidindo o Senado e atuando como marechal de campo na guerra para manter no comando a presidanta, seu abjeto antecessor e seu espúrio partido.

Por pior que tenha sido, o ano de 2016 nos brindou com deposição de Dilma. Lula se tornou réu pela primeira vez (numa das 7 ações criminais que vem colecionando desde então) e foi condenado a 9 anos 6 meses de prisão. A economia deu sinais de recuperação, a inflação e a taxa básica de juros começaram a recuar, os índices de desemprego pararam de crescer e reformas importantes para o país começaram a avançar.

2017, ano em que depositávamos esperanças de melhoras mais consistentes, começou com rebeliões em presídios e uma greve absurda da PM  que resultou na morte de centenas de pessoas. Ainda em janeiro, um trágico acidente aéreo ceifou a vida do ministro Teori Zavascki e deixou o STF sem relator dos processos da Lava-Jato às vésperas da homologação da Delação do Fim do Mundo. Mesmo assim e a despeito do "fogo amigo", houve avanços na luta contra a corrupção. Foram para a cadeia políticos notórios, como o deputado Rodrigo Rocha Loures ― ex-assessor e homem da mais estreita confiança de Michel Temer ―, o deputado Geddel Vieira Lima ― homem dos R$51 milhões e também amigão do peito de Michel Temer ―, os ex-governadores Sérgio Cabra, Anthony Garotinho, quase todos os membros do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro e outros tantos do alto escalão da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (a começar pelo presidente).

Mas a coisa azedou a partir de maio, quando uma conversa de alcova entre Michel Temer e o moedor de carne bilionário Joesley Batista, gravada à sorrelfa por este último nos “porões do Jaburu”, foi publicada por Lauro Jardim em O Globo. O presidente foi demovido da ideia de renunciar pelos puxa-sacos de plantão (que seriam fatalmente desalojados de seus cargos e perderiam a boquinha do foro privilegiado) e, em pronunciamento à nação, jurou de pés juntos que “a investigação no STF seria "o território onde aflorariam as provas de sua inocência". Ato contínuo, passou a mover mundos e fundos (sobretudo fundos) para se escudar das flechas do então procurador-geral Rodrigo Janot e barrar a abertura de inquérito no Supremo. E o resto é história recente.

Debalde as previsões cataclísmicas de que este governo estaria com os dias contados ― cantadas em prosa e verso por nove entre dez analistas políticos e formadores de opinião de plantão ―, Michel Temer, tal qual os “bagres-sem-cabeça” que boiam nos esgotos a céu aberto que cortam a cidade de São Paulo, recusa-se teimosamente a afundar. Como na fábula russa de Pedro e o Lobo, sua iminente queda acabou cansando, e a maioria da população deixou de dar ouvidos à falácia (não que isso tenha feito algum bem à popularidade do presidente, cujos índices são tão ruins ― ou piores ― que os de Collor e Dilma durante seus respectivos processos de impeachment).

Já não se fala mais que Temer vai cair no dia seguinte, nem se especula como seria o governo de Rodrigo Maia ou, imaginem só, da ministra Cármen Lúcia, presidente do STF. Embora poucos digam isso em público, tem-se como “cenário provável” sua permanência no Planalto até 31 de dezembro de 2018. Como salientou J.R. Guzzo em sua coluna na revista Exame do último dia 20, o governo está morto moralmente, e já há um bom tempo ― desde que se comprovou que o presidente da República mantinha reuniões nada republicanas, na calada da noite e em seu próprio palácio, com um escroque confesso e bilionário que hoje está na cadeia. Só que não estamos no Japão, onde um ministro faz haraquiri em público quando é pilhado roubando um clipe de papel. No Brasil, ninguém morre só de moral, sobretudo se tem à disposição o Diário Oficial, os cargos comissionados e a chave do Erário.

E a questão não se resume à permanência do presidente no jogo até o apito final: de uns tempos a esta parte, incentivado pelas reformas que ninguém antes dele conseguiu aprovar (insuficientes, é verdade, e limitadas por concessões às marafonas do Congresso), pela queda dos juros e da inflação, e pelo crescimento da produção industrial (o melhor resultado em 4 anos), Michel Miguel Elias Temer Luria, em carne e osso, começou a aparecer na imprensa como possível candidato à reeleição.

(Pausa para as gargalhadas.)

Os desafios do Brasil para o próximo ano são imensos. O país precisa voltar a crescer para elevar o padrão de vida material do seu povo e explorar nossa energia criadora em sua plenitude. Precisa aprovar reformas estruturais para modernizar-se e competir com qualidade no mundo globalizado. Precisa civilizar a vida política, estabelecendo um padrão ético aceitável, e superar as feridas de uma profunda divisão de ideologia e métodos. Precisa, enfim, reencontrar o caminho da estabilidade institucional, mas, mais importante que tudo, o povo (ah, o povo) precisa se conscientizar do poder que o direito (ou obrigação) de voto lhe assegura. Em outubro, além de eleger o sucessor de Michel Temer (e dos governadores dos Estados e deputados estaduais) teremos a valiosíssima chance de substituir todos os 513 deputados federais e 2/3 dos 81 senadores da República. Pensem nisso.

Feliz ano novo a todos.

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domingo, 3 de dezembro de 2017

O QUE ESPERAR DE 2018? (CONTINUAÇÃO)


Diante do que foi dito no post anterior, o leitor pode até argumentar que a situação não melhorou. E com razão, pois as coisas não vão bem. Afinal, o atual presidente é Michel Temer, e seu governo não passa de um melancólico terceiro tempo das gestões lulopetistas. Mas é inegável que o cenário mudou. Quando por mais não seja, 2016 valeu pelo funeral político dos que mandaram diretamente no Brasil durante mais de uma década, embora muita gente ― a começar pelas forças que deixaram o governo ― tente vender a ideia de que nada mudou, buscando levar os brasileiros a acreditar numa coleção cada vez maior de impossibilidades materiais. 

Faz parte desse múltiplo conto do vigário, por exemplo, a noção de que as pessoas sejam capazes de ficar, ao mesmo tempo, contra Renan e a favor de Lula. Ou de indignar-se com Sérgio Cabral e não levar em conta que ele foi um herói tanto para Lula quanto para Dilma ― homem de admirável coração, segundo um, ou o melhor governador do país, segundo a outra. Dentro da mesma sequência de fábulas, espera-se que levem a sério a informação de que o molusco eneadáctilo continua pobre, mesmo tendo embolsado dezenas de milhões de reais a título de remuneração por palestras a que ninguém assistiu.

Enquanto se mantém por aí, a contrafação das realidades não parece destinada a produzir efeito prático algum. O barulho vai continuar, é claro, até porque é comum as pessoas gritarem mais alto quando percebem que têm cada vez menos fatos a seu favor. Veja o esforço que fazem os advogados de Lula para destemperar o juiz Sérgio Moro nas audiências, usando de linguagem agressiva e sem cabimento, dada a ausência de argumentos realmente sérios para responder às denúncias feitas contra seu cliente (até porque é difícil defender o indefensável). Só que negar a verdade não altera os fatos.

Lula e o PT vivem uma situação surreal. A despeito de ser hepta-réu (e contando...) e de ter sido sentenciado a 9 anos e meio de prisão, o pulha vermelho continua insistindo na balela de que é a alma viva mais honesta do Brasil e que tudo que existe contra ele é fruto de uma descabida perseguição do juiz Sergio Moro. Seus seguidores, divorciados da realidade e estimulados pelas pesquisas de opinião pública, ignoram solenemente o fato de que, se houver justiça nesta Banânia, as condenações que serão impostas a seu amado líder torná-lo-ão inelegível não só em 2018, mas também nos pleitos subsequentes.

STF já se posicionou (numa votação apertada e ainda não concluída) no sentido de que réus em ação penal não podem ocupar cargos na linha sucessória presidencial (mais detalhes nesta postagem). Supondo que Lula chegue mesmo a disputar a concorrer em 2018 e, por absurdo, consiga se eleger ― com um eleitorado “esclarecido” como o nosso, nada é impossível ―, mais absurdo ainda seria ele ser empossado, uma vez que, além de colecionar processos, já foi sentenciado em um deles, e o TRF-4 deve confirmar a sentença de Moro no primeiro semestre de 2018 ― antes, portanto, das próximas eleições.

Até as pedras portuguesas da Praça dos Três Poderes sabiam que Lula estava envolvido até o último fio de barba no mensalão. No entanto, na época em que o escândalo veio à tona, ventos benfazejos soprados pelos mercados internacionais enfunavam as velas desta Nau dos Insensatos e inflavam a popularidade de seu comandante populista, movido a projetos assistencialistas que, mais adiante, cobrariam seu tributo. Por conta disso, o chefe da quadrilha foi poupado, embora seus cupinchas ― Dirceu, Genoino, Delúbio, Vaccari e outros mensaleiros petistas do primeiro escalão ― tenham sido processados, julgados, condenados e encarcerados.

Em 2010, ainda com a popularidade nas alturas, o Redentor dos Miseráveis escolheu a Estocadora de Vento para manter aquecida a poltrona presidencial até que ele pudesse voltar a ocupá-la. Para concorrer a um terceiro mandato consecutivo, seria preciso aprovar uma proposta de emenda constitucional a toque de caixa, de modo do que sua insolência preferiu comandar o espetáculo dos bastidores até poder voltar ao picadeiro e lá se aboletar por pelo menos mais 8 anos. Mas o imprevisto costuma ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos: a mulher sapiens pegou gosto pelo poder e, mediante o mais escandaloso estelionato eleitoral da nossa história, conquistou seu segundo mandato ― do qual foi afastada em maio de 2016 e expelida em definitivo 3 meses depois, quando então o vice decorativo passou de presidente interino a titular, e o resto é história recente (conforme vimos em detalhes na postagem anterior).

Nesse entretempo, o “o grande general do petrolão” (na definição do procurador da Lava-Jato Deltan Dallagnol) começou a colecionar processos. São sete até agora, cujo andamento o Picareta dos Picaretas tenta procrastinar através das recorrentes chicanas da sua defesa ― capitaneada por Roberto Teixeira, seu compadre e também réu na Lava-Jato, e Cristiano Zanin ― que vem travando uma verdadeira cruzada (inglória) nos quase 2 anos de recursos espalhados por todas as instâncias da Justiça. Foram nada menos de 10 pedidos de suspeição criminal e exceção de incompetência criminal para afastar o juiz Sérgio Moro ou tirar os processos da 13ª Vara Federal de Curitiba (detalhes nesta matéria).

Continua no próximo capítulo.

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terça-feira, 21 de novembro de 2017

A AMEAÇA TOTALITÁRIA (ou ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA)


Numa matéria sobre a sucessão presidencial, a revista ISTOÉ desta semana destaca Jair Bolsonaro, a quem se refere como aquele que reverencia torturadores, chama os direitos humanos de “esterco da vagabundagem”, diz que só quem “fraqueja” gera filha mulher, que preferiria um filho morto a homossexual ― e que já conta com quase 20% de intenções de voto.

Com efeito, é inegável que o controverso deputado vem se esforçando para suavizar seu perfil de predador (lembram do Lulinha “Paz e Amor” de 2003?). Mas será mesmo que, graças aos maus eleitores de sempre, teremos de pagar esse preço para não ter o molusco de nove dedos e seu espúrio partido de volta no comando deste pobre país?

Muita água vai rolar até outubro do ano que vem, e tudo que disse até agora é mera especulação. Mesmo assim, vale a pena ler as considerações expendidas na reportagem, que, dentre outras coisas, destaca que Bolsonaro se elegeu deputado graças aos votos de pessoas aparentemente tão preconceituosas quanto ele, e que, nos últimos meses, vem se aproveitando da crise de segurança e a escalada da corrupção para ampliar sua faixa de simpatizantes, apresentando-se como o candidato ideal para quem perdeu a confiança na política tradicional.

Ainda segundo a matéria, Bolsonaro significa um retrocesso para o Brasil. Ele leva Messias no nome, mas é um ovo de serpente que dificilmente conduzirá o Brasil por um bom caminho. Do ponto de vista político, seria como manter o país sob um Fla-Flu constante. E, pior, debaixo de um tacape manejado por um troglodita desprovido de freios.

Bolsonaro sabe que grassa no eleitorado um sentimento de desolação e, para chegar lá, joga exatamente para essa plateia. Por isso, tornou-se um fenômeno nas redes sociais, com mais de cinco milhões de seguidores, além de admiradores fieis. No entanto, suas declarações rasas demonstram total despreparo para assumir o cargo mais importante da nação.

Para alguém com tantos anos de vida pública, seus conhecimentos sobre a economia são de uma superficialidade chocante ― ele próprio admite que não entende nada do riscado e diz que basta nomear um ministro da Fazenda que seja do ramo para ficar tudo certo. Mas quem conhece seu estilo centralizador sabe que não é bem assim; até seus aliados reconhecem que delegar não é o seu forte.

Na semana passada, os conceituados “Financial Times” e “The Economist” teceram críticas contundentes ao deputado, que veem como um demagogo de direita comparável aos presidentes dos EUA, Donald Trump, e das Filipinas, Rodrigo Duterte. Ainda não se sabe exatamente qual foi a reação do pré-candidato a essas críticas, mas sabe-se que ele perdeu a compostura ao revidar um artigo da colunista Miriam Leitão, que questionou seu total despreparo para lidar com a economia. “Miriam Leitão, a marxista de ontem, continua a mesma. Seu lugar é no chiqueiro da história”, rosnou o ex-militar. Mas em nenhum momento entrou no mérito da questão nem ofereceu argumentos que afastassem a nítida impressão de que ele não tem a menor noção sobre a maioria dos temas importantes para o País.

No Parlamento, o deputado integra as bancadas da bala e evangélica, mas, no tapete verde da Câmara, mostra-se desagregador, sem espírito de grupo. Não por acaso, jamais conseguiu construir relações sólidas com nenhum partido pelos quais já passou ― PDC, PP, PPR, PPB, PTB, PFL e o atual PSC. Talvez venha mesmo a disputar a Presidência pelo o PEN, ou Patriotas, já que esse deve ser o novo nome da legenda. O fato é que, sem uma base sólida no Congresso, nenhum presidente conseguirá governar o País (como compravam a péssima gestão de Dilma e os perrengues enfrentados por Temer desde qua a substituiu).

Bolsonaro não esconde sua admiração pela ditadura que assolou o País por mais de duas décadas. Segundo ele, “o erro da ditadura foi torturar e não matar” ― em maio de 1999, ao defender o fechamento do Congresso num programa de TV, o hoje candidato à presidência escancarou sua veia autoritária: “deviam ter fuzilado corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique”.

As consequências da eleição de um populista radical e agressivo ― seja de esquerda ou de direita ― podem ser funestas para uma nação que começa a se recuperar de um longo período de recessão e tenta reencontrar o caminho do crescimento. A saída, portanto, não é o extremismo. Ao contrário. Mais que qualquer outra coisa, o Brasil precisa de união.

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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A SOCIEDADE BRASILEIRA E O ELEFANTE DE DRUMMOND


A maioria de nós está apreensiva com a falta de alternativas para a sucessão presidencial, e não sem razão. Todavia, mais importante que a descobrir "um nome" é a sociedade civil criar meios para controlar o governo, pois não elegemos anjos, mas pessoas de carne e osso.

De certo modo, já exercemos algum controle, mas somente em relação a grandes temas, já que tratamos como normais e cotidianas as inúmeras aberrações que colocam a nação de cabeça para baixo, como o recente pedido oficial de Geddel Vieira Lima para saber o nome e o telefone de quem o denunciou.

Felizmente, a procuradora-geral Raquel Dodge negou esse absurdo ― que, se acolhido, daria início a uma prática inusitada: caso a polícia revelasse o nome e o endereço do delator, estaria quebrando o anonimato de informantes e permitindo que eles fossem assassinados (ou alguém acha que Geddel queria apenas tomar uma cervejinha com o dito-cujo?). Mas só o fato de tamanha aberração ter existido e circulado como uma notícia normal dá uma boa ideia de como anda o Brasil.

Enfim, a vida continua... Engolindo um sapo aqui, outro acolá, acostumamos o estômago para os grandes batráquios de fim de mandato. Um deles, que está sendo urdido nos bastidores do Congresso e no próprio STF é a derrubada da prisão em segunda instância ― que tanto os parlamentares quanto alguns ministros do Supremo veem como saída para neutralizar não só a Lava-jato, mas todas as operações que envolvam políticos corruptos. Enunciado como uma tese jurídica, o fim da prisão em segunda instância faz sentido pois todos são inocentes até que a sentença seja confirmada pelo STF. Na prática, todavia, reverter o entendimento será um retrocesso que resultará fatalmente em impunidade geral. Todos terão direito a uma trajetória semelhante à de Paulo Maluf, que de recurso em recurso vai tocando a vida, exercendo mandatos e até defendendo outros acusados de corrupção, como o próprio Michel Temer.

Enquanto essas coisas acontecem, o debate entre os que querem a mudança tende a focar no perfil do líder que nos vai salvar. Em que rua, em que esquina o encontraremos? Acho improvável que um grande líder aflore desse mar de lama ― e mesmo que surja, ele não será um anjo enviado do Céu. A despeito do que afirma a autodeclarada alma viva mais honesta do Brasil, não elegeremos anjos em 2018 ― e nem em qualquer outro pleito. Até lá, precismos fortalecer as organizações que trabalham com a transparência, fortalecendo, consequentemente, a sociedade civil como um todo.

Nem todos pensam da mesma maneira, naturalmente, mas a situação que o país atravessa é dramática e requer empenho para que pontos de convergência sejam encontrados. A fronteira do pessimismo não nos deve desesperar. Há algumas instituições funcionando, há grupos trabalhando na busca da transparência, há a possibilidade real de que todos os que querem mudanças encontrem um denominador comum.

Como o poeta que fabrica um elefante com seus parcos recursos, a sociedade terá de construir seu sistema de defesa. Alguns móveis velhos, algodão, cola, a busca de amigos num mundo enfastiado que duvida de tudo ― o Elefante de Drummond é inspirador.

Texto inspirado num artigo publicado por FERNANDO GABEIRA no Estadão

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