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segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

SURGE PETISTA QUE PREFERE SAIR DA ÁGUA A SE AFOGAR


Quando Lula deixou a cadeia, em 8 de novembro, o PT lidava com dois problemas: o excesso de lama e a carência de rumo. Decorridos 36 dias desde a abertura da cela de Curitiba, o PT continua imerso em lodo. Mas já dispõe de um rumo. Sob os efeitos da raiva que Lula injetou na conjuntura, o partido tomou a direção do brejo.

Em entrevista à Folha, o governador petista da Bahia, Rui Costa, sugeriu caminhos diferentes: Lula e o PT precisam "pregar a pacificação do país", declarou. É necessário "aproximar as posições gerais do partido de desafios concretos da economia e da sociedade". Falou em "ajuste fino", em "refinamento" de posições.

Instado a comentar a aversão da bancada do PT na Câmara ao projeto que regula a participação da iniciativa privada no setor de saneamento básico, o governador tomou as dores dos cerca de 100 milhões de brasileiros que não dispõem de uma privada em casa.

"Onde vamos buscar recursos para tirar o pobre de viver sem esgoto, em lugares alagados ou ficar sem água? O governo e os estados não têm como ofertar. É evidente que precisamos usar o instrumento da parceria público-privada, do capital privado, para levar água e esgoto à população".

Rui Costa proclama o óbvio. Mas o óbvio e o PT são coisas inconciliáveis. O mesmo Lula que beijou a cruz da Carta aos Brasileiros para virar presidente em 2002 agora afugenta a classe média com sua ficha suja e seu discurso radical. Numa conjuntura que pede moderação, a divindade petista operou para reconduzir a incendiária Gleise Hoffmann ao comando partidário.

Ninguém se afoga por cair na água, mas por permanecer lá. Rui Costa soou como se preferisse sair da água. O diabo é que, para chegar à margem, teria de se livrar do abraço de afogados.

Texto de Josias de Souza.

domingo, 15 de dezembro de 2019

AO VENCEDOR, AS BATATAS!


A polarização política fomentada por Lula com o proselitismo do "nós contra eles" vem produzindo efeitos tão nefastos quanto os que Dilma causou na Economia ao longo de seus 5 anos, 4 meses e 12 dias no poder governo.

Entre outras consequências funestas, a "guerra entre o Bem e o Mal" exterminou no primeiro turno das eleições passadas, juntamente com o circo de horrores (Vera Lúcia, Cabo Daciolo, Eymael e outras bizarrices), os poucos candidatos que valiam dois tostões de mel coado, levando ao embate final os extremistas mais extremados do espectro político. E com o timão da Nau dos Insensatos nas mãos de um marujo que, em outras circunstâncias, estaria empunhando um esfregão, nosso consolo é que a coisa teria seria ainda pior se o títere da jararaca tivesse derrotado o capitão caverna.

Eleito graças ao discurso anti-Lula e anti-PT, a versão tupiniquim do Goofy beneficia-se desse cenário inflamado, notadamente num momento em que sua capacidade de produzir crises começava a decepcionar quem acreditou que ele adquiriria maturidade no cargo ou seria domado pelos assessores. E os ganhos são ainda maiores com o presidiário de Curitiba (que também se capitaliza com esse confronto permanente) em ritmo de palanque nacional. A questão é que o Brasil e o povo brasileiro só têm a perder, pois ficam reféns de duas posições: petista ou antipetista.

Observação: Talvez seja injusto atribuir esse descalabro apenas a Lula. Como bem lembrou o próprio Bolsonaro numa de suas "frases polêmicas" — aquelas que a mídia adora tirar do contexto para fazer tempestade em copo d'água —, o grande erro da ditadura foi torturar e não matar. Aliás, Lula disse mais ou menos a mesma coisa em 2016, após ser conduzido coercitivamente à PF do Aeroporto de Congonhas. Depois de prestar depoimento, a jararaca da caatinga ensinou que para matar a serpente é preciso bater na cabeça, não na cauda. Como ninguém aprendeu a lição, é possível que se repita no pleito de 2022 o que aconteceu no de 2018.

Ao longo dos últimos 11 meses e lá vai fumaça, Bolsonaro nomeou um bando de incompetentes para o primeiro escalão, indispôs-se com Deus e o mundo, ungiu-se primeiro-vassalo de Donald Duck, digo, Donald Trump, moveu mundos e fundos para emplacar o filho fritador de hambúrgueres (numa rede americana de lanchonetes que só trabalha com frango frito) no cargo de embaixador no EUA e vendeu a alma ao diabo, digo, à banda podre do STF, em troca da blindagem de seu primogênito no "Caso Queiroz". Como se não bastasse, em vez de ajudar na tramitação da PEC da Previdência, fez o possível para atrapalhar, criando uma crise aqui, outra acolá, falando mal deste, debochando daquele.   

É complicado fazer previsão com quase 3 anos de antecedência, sobretudo num país onde nem o passado é previsível. As últimas pesquisas sugerem que a popularidade do capitão parou de cair e segue firme no patamar de 33%, podendo, inclusive, melhorar se as boas perspectivas da economia se confirmem. Lula, mesmo solto, já não consegue mobilizar a esquerda como antigamente, mas mantém respeitáveis 29%

Lidos nas entrelinhas, esses resultados revelam que 60% do eleitorado tupiniquim é manipulável e altamente susceptível a discursos demagógicos, embora as castas já estejam formadas, sendo muito difícil membros da patuleia mortadeleira serem convertidos em bolsomínions. E vice-versa. Mas é bom ter em mente que, como as nuvens no céu e o cenário político, os índices podem mudar a cada nova pesquisa (sem mencionar que muitos entrevistados não só são semianalfabetos ou analfabetos funcionais, como também incapazes de encontrar o próprio rabo usando as duas mãos e uma lanterna).

Enfim, resta saber como ficará o "meio de campo". Se não surgir um candidato "de centro" com envergadura para mudar esse jogo de cartas marcadas, estaremos ferrados e mal pagos. E anular, o voto, votar em branco ou se abster de votar, embora sejam opções válidas, não ajudam em numa eleição polarizada como tende ser a de 2022.

Para concluir, ainda falando em pesquisas, dados coletados pelo Datafolha indicam que a avaliação do governo piorou no quesito combate à corrupção. Moro a culpa ao STF, mas é sempre mais fácil escolher culpados do que assumir culpas. Hoje, lembra o impagável Josias de Souza, quando a corrupção domina a conversa numa rodinha, é impossível mudar de assunto; pode-se, no máximo, mudar de suspeito. E Bolsonaro está cercado de suspeitos: o filho investigado, o ministro denunciado no escândalo do laranjal, um líder enrolado na Lava-Jato, o diabo.

Moro disse que "o governo está trabalhando com afinco para o restabelecimento da prisão em segunda instância". Não é bem assim. O ministro até frequenta o debate do lado certo, mas o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, coleta assinaturas para barrar a votação do PL que altera o CPP, enquanto Bolsonaro faz cara de paisagem ou, no máximo, declarações flácidas. Num cenário em que a memória fraca se confunde com a consciência limpa, o brasileiro tem dificuldade para enxergar inocentes no palco. Consolida-se a sensação de que os corruptos são encontrados em várias partes do mundo — quase todas no Brasil. E a leniência do Supremo não explica tudo. Eleito como parte da solução, Bolsonaro oferece material para que seus próprios eleitores comecem a enxergá-lo como parte do problema.

Valei-nos Deus!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

ACREDITE SE QUISER...



Lula não inventou a corrupção nem a polarização político-partidária, mas ampliou e institucionalizou a primeira — em prol de seu projeto de perpetuação no poder — e disseminou a segunda — com seu nefasto "nós contra eles". Assim, o que já não vinha bem — falo da "qualidade" dos políticos que governaram este país desde a redemocratização  ficou ainda pior. 

Não se pode negar que a primeira gestão petista, mesmo eivada pelo Mensalão, produziu alguns resultados positivos, mas somente porque Lula soube administrar a herança nada maldita deixada pelos tucanos e foi ajudado pelos ventos benfazejos que sopravam da economia mundial. Mas aí veio a crise de 2008, que não desembarcou no Brasil imediatamente, mas acabou chegando, e não como uma "marolinha".

Potencializada pela acachapante incapacidade administrativa da mulher sapiens — que seu criador e mentor fez eleger para manter quente a poltrona presidencial até dali a quatro anos, quando ele pretendia voltar a ocupá-la —, combinada com a roubalheira institucionalizada (já com bandeira suprapartidária), a conjuntura mundial adversa levou nossa Economia à debacle que se vem tentando reverter desde o impeachment da anta e a promoção da curiosa reencarnação tupiniquim de Vlad Drakul a comandante da Nau dos Insensatos. 

Num primeiro momento, as perspectivas foram alvissareiras, mas as denúncias do carniceiro promovido a dono de uma das maiores indústrias de alimentos do mundo (graças às benesses do BNDES) reduziram o poderoso vampiro do Jaburu a um tímido morcego, que precisou vender a alma aos demônios da Câmara em troca de blindagem contra as denúncias de Rodrigo Janot (aquele que disse ter ido armado ao STF para matar vocês sabem quem e se suicidar em seguida, mas não fez nem uma coisa, nem outra; apenas divulgou esse factoide para impulsionar as vendas de seu livro de memórias). 

Mesmo tendo sobrevivido às flechadas do ex-procurador-geral, Temer terminou seu mandato-tampão como um presidente pato-manco (ou lame duck, que é como os americanos se referem a políticos que chegam ao fim mandato desgastados a ponto de os garçons palacianos demonstrarem seu desprezo servindo-lhes o café frio). Depois de passar a faixa ao capitão-caverna, já sem a blindagem do foro privilegiado, o emedebista tornou-se mais um colecionar ações penais. Chegou mesmo a ser preso preventivamente em duas ocasiões, mas sua estada na cadeia foi abreviada pela pronta intervenção do desembargador Antonio Ivan Athié (não confundir com Ivanhoé), presidente da 1ª Turma do TRF-2 — vale salientar que esse magistrado ficou afastado do cargo durante 7 anos devido a uma ação no STJ por estelionato e formação de quadrilha. Para bom entendedor... 

Tudo isso nos levou à eleição presidencial mais polarizada da história desta Banânia, na qual, por mal dos nossos pecados, nosso "esclarecidíssimo" eleitorado eliminou, no primeiro turno, uma porção de aberrações dignas de figurar num circo de horrores, mas foram de embrulho dois ou três postulantes de centro que poderiam ser testados. Assim, os cidadãos de bem foram obrigados a apoiar Jair Bolsonaro para impedir que o PT voltasse ao poder, com o bonifrate Fernando Haddad no Palácio do Planalto e Lula puxando os cordéis desde sua cela VIP em Curitiba. O problema é que, no mesmo pacote que nos trouxe o "mito", vieram três de seus cinco filhos e um dublê de astrólogo e guru radicado na Virgínia (EUA).

Em onze meses como chefe do Executivo, o "mito" dos bolsomínions — curiosa confraria de sectários que agem em relação ao capitão caverna como a militância petista em relação a sumo pontífice da seita do inferno — decepcionou muita gente, embora sua inaptidão para o cargo e postura belicosa fossem visíveis, desde sempre, a olho nu. Mas a situação do país não está tão ruim quanto eu suponho que estaria se o títere do criminoso de Garanhuns vencido o pleito. No mínimo, não teríamos a PEC previdenciária, que é indispensável para o equilíbrio das contas públicas, embora não resolva todos os problemas gerados e paridos durante as gestões nefastas da gerentona de araque que, sem saber atirar, virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado; sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, virou estrela de palanque; sem jamais ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente do Brasil — e isso depois de ter levado à falência não uma, mas duas lojinhas de badulaques importados que ela abriu em Porto Alegre durante o governo de FHC (detalhes nesta postagem).

Tudo isso é público e notório, faz parte da nossa história recente e foi objeto de dezenas de postagens aqui no Blog. O que mais me estarrece são as perspectivas nada alvissareiras que despontam no horizonte, a despeito de o atual governo ainda não ter completado um ano. Com a soltura de Lula por uma decisão estrambótica de seis membros da mais alta corte do país, teve início a campanha eleitoral antecipada de 2022. Aproveitando-se da inércia, da complacência e da conivência do TSE, presidido por uma ministra do STF nomeada por Dilma, que acontece de ser a personificação do "nem sim, nem não, antes pelo contrário", o pseudo pai dos pobres e mão dos necessitados vem destilando seu ódio país afora. Horas depois de ser solto, o picareta subiu num palanque improvisado e discursou para acéfalos amestrados que bateram os cascos alegremente, sugando como saprófagos a podridão emanada do pontífice da seita do inferno. No dia seguinte, depois de ter voado para São Paulo à bordo de um luxuoso jatinho, o pezzo di minchia repetiu a proeza defronte ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. É surreal!

Vivemos tempos de pós-verdade, onde a versão vale mais que os fatos. Veja o caso da Vaza-Jato de Verdevaldo das Couves, que, valendo-se de material hackeado de 1000 celulares de autoridades (entre as quais o ministro Sérgio Moro, o procurador federal Deltan Dallagnol e o próprio presidente da República), desovou uma profusão de mensagens possivelmente editadas e adulteradas, que veículos de comunicação supostamente ilibados e imparciais se apressaram a disseminar a torto e a direito, ajudando o gringo imprestável a assassinar a reputação dos responsáveis pela maior operação anticrime e anticorrupção da história deste país e municiando a defesa do ex-presidente ladrão, que pugna pela anulação das condenações do bandido e pela punição dos mocinhos.

Falando nessa caterva, semanas atrás a Revista Veja — que durante algum tempo funcionou como pau-mandado do site The Intercept Brasil — publicou uma entrevista com Cristiano Zanin Martins, cujo nome dispensa apresentações. Quem tem estômago forte não pode deixar de ler; que não tem pode se precaver tomando uma dose cavalar de Plasil antes de dar início à leitura.

Segundo o artigo 21 do CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DA OAB, "é direito e dever do advogado assumir a defesa criminal, sem considerar sua própria opinião sobre a culpa do acusado". Afinal, todos têm direito à mais ampla defesa, ou pelo menos é isso que diz a lei. Todavia, Zanin insulta a inteligência dos leitores em diversos pontos da entrevista. Num deles, ele diz que "o que vimos é que, desde a fase de investigação, o juiz Moro coordenava as ações da acusação, quando deveria manter posição de equidistância. Isso não pode nem para Lula nem para nenhum cidadão”.

Por repetir frequentemente que Lula é inocente, Zanin foi perguntado como explica os depoimentos de delatores, as provas reunidas nos processos — como a visita de Lula ao tríplex, reformas feitas para atender o ex-presidente e objetos pessoais no sítio de Atibaia, etc. Sua resposta: "Os depoimentos dos delatores são mentirosos e não provam absolutamente nada contra o ex-presidente. São ensaiados e com conteúdo previamente acertado com o Ministério Público em troca de benefícios. Não têm força probatória. Não há em nenhum processo demonstração alguma de que Lula tenha praticado ou deixado de praticar ato inerente à função de presidente da República em troca de vantagem indevida."

A essa altura, o repórter ponderou que foram encontrados no apartamento e no sítio objetos pessoais de Lula e de seus familiares. Zanin respondeu que "as reformas foram feitas à completa revelia do ex-presidente". Perguntado, então, se ele acha que alguém acredita mesmo nisso, o advogado respondeu: "No tríplex as reformas foram feitas por conta exclusivamente de Léo Pinheiro (ex-presidente da OAS e delator no caso), não sei com qual objetivo. Talvez fosse o de vender o apartamento ou torná-lo mais atraente. Mas o fato é que houve a decisão de Lula de não o adquirir. O sítio é de propriedade de Fernando Bittar, e ele demonstrou isso no processo. Tudo o que foi realizado foi em proveito do proprietário, não de terceiros. O Lula sempre disse que frequentava o sítio. O que se buscou foi transformar a amizade que sempre existiu em crime."

Pausa para ver Papai Noel singrando os céus a bordo de seu trenó puxado por renas.

sábado, 30 de novembro de 2019

AOS AMIGOS, TUDO; AOS INIMIGOS, A LEI



Pouco antes de ser preso, Lula teve uma de suas piores ideias: fazer uma “caravana” pelos estados do Sul. Acabou escorraçado de lá na base da pedrada. Solto recentemente graças a uma decisão inqualificável da ala pró-crime do STF, reiniciou seu périplo pelo Brasil, visando destilar seu ódio e receber estrepitosos aplausos da claque amestrada que bebe suas palavras como, segundo diz a lenda, Rômulo e Remo sorveram o leite da loba que os alimentou.

No domingo 17, num hotel de luxo da praia da Boa Viagem (na capital de seu estado natal), o troçulho de Garanhuns tomou a sua primeira vaia. Enfiado no fundo de um desses ônibus de luxo com vidro escuro para ninguém ver nada dentro, aprontava-se para partir rumo ao que, aparentemente, seria um compromisso de sua nova peregrinação pelo Brasil, com a qual imagina atrair as massas e voltar a ser o que foi um dia. Mas em vez de ouvir o aplauso da multidão, ouviu o que tem ouvido sempre que sai à rua: “Lula, ladrão, teu lugar é na prisão”. Na verdade, não havia multidão nenhuma — só um grupo de gente vestida de verde e amarelo, mandando o ex-presidente para o raio que o parta. Onde estavam os milhares e milhões de “brasileiros do povo”, os “pobres”, os “desesperados” com o governo”, que deveriam ter aparecido para dar força ao ex-presidente petralha? Em lugar nenhum — e isso no coração do Nordeste, onde, com o apoio dos “institutos de pesquisa de opinião”, o sujeito sempre diz que goza de 110% de popularidade.

Este, meus caros, é o novembro do nosso descontentamento diante de um Brasil que está em guerra aberta contra os brasileiros. Agora, depois de meses a fio de uma tragédia única no mundo, vemos a maioria dos magistrados do tribunal supremo do País fazer o oposto do que é a sua obrigação. Em vez de buscar mais justiça numa sociedade que já é perigosamente injusta, chama para si a tarefa de dar aos criminosos ricos, aqueles que têm dinheiro para pagar criminalistas estrelados, o direito de passar o resto da vida sem receber nenhuma punição real pelos crimes que praticaram.

E não agem como agem os nobres causídicos-chicaneiros por acreditar, como dizem, que o direito de defesa deve estar acima de todos os outros — a começar pelo direito das vítimas. Fazem o que fazem porque estão metidos numa luta desesperada pela sobrevivência do Brasil velho, corrupto, subdesenvolvido e desigual, paraíso dos parasitas da máquina pública, da venda de favores e dos privilégios para quem tem força, inimigo do trabalho, do talento e do mérito individual. É o País que você tem certeza de que não quer.

Nada destrói tanto o respeito pelos governos, dizia Einstein, do que a sua incapacidade de fazer com que as leis sejam cumpridas. É o risco que foi construído no Brasil. De fato, como seria possível respeitar o poder público neste País se o Código Penal brasileiro diz que é proibido praticar crimes, mas o STF decide impedir a punição dos crimes praticados? Na verdade, o que realmente aconteceu em toda essa infame discussão sobre a “prisão em segunda instância” não foi, em momento algum, uma divergência sobre questões jurídica, mas, sim, um choque entre leis — ou o que nos dizem que é a lei — e a moral. Quando a lei se opõe à moral, como nesse caso, ou se perde o senso moral ou se perde o respeito pela lei. Não há outra possibilidade. É o momento em que a lei se torna injusta, por não estar mais em harmonia com as noções elementares do certo e do errado. O resto é mentira.

O que o cidadão viu, neste golpe legal para proibir a prisão de condenados em segunda instância, foi uma tentativa aberta de impedir que vigore no Brasil o império da lei — algo que só pode existir se a Justiça for imparcial. Mas quem defende essa aberração, inexistente em qualquer país sério do mundo, propõe, na verdade, que o sistema judicial brasileiro tome um partido — o dos réus, por considerar que as provas colhidas contra eles jamais estarão corretas, ou serão suficientes, e que os juízes errarão todas as vezes em que condenarem alguém.

ObservaçãoLevantamento do jornal O Estado de S. Paulo dá conta de que a maioria dos deputados e senadores é a favor da autorização para condenado em segunda instância começar a cumprir pena, mas as tentativas de transformar essa vontade de representantes do povo em lei se perdem em negociações sem fim, pois os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Rodrigo Maia, sabotam de forma canalha as mudanças necessárias para que os bandidos da política deixem de gozar a proteção servil que lhes dão.

Trata-se, simplesmente, de usar o que está escrito na lei para desrespeitar a lei. Sempre ouvimos que democracia e civilização só podem vigorar se a Justiça tiver coragem de enfrentar o grito irracional da multidão, que exige culpados, não se interessa por provas e não entende de hermenêutica. Mas não há nada de irracional na voz da multidão que se está ouvindo agora — muito pelo contrário. O brasileiro sabe perfeitamente que um réu, para acabar na cadeia, tem de ser condenado por um juiz, a “primeira instância”, e, em seguida, ser condenado outra vez — agora não mais por um, mas por um conjunto de magistrados, a “segunda instância”. Nos dois casos, ele tem todas as chances de se defender e, se não consegue, não pode ficar apelando na Justiça até o Dia do Juízo Final. Irracional é querer o contrário.

Não há nada de frouxo na moralidade, como alegam os campeões do “direito de defesa”. Na verdade, ela é muito mais dura que qualquer lei. Diz apenas que é preciso fazer a coisa certa.

Com J.R. Guzzo e O Estadão

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

LULA LÁ



Coerência é artigo em falta nas prateleiras do presidente Bolsonaro, que, entre outras falas paradoxais, negou o golpe militar de 64, mas reconheceu que a ditadura errou por torturar demais e matar de menos. Hipocrisia à parte, assiste alguma razão ao nosso indômito capitão, sobretudo porque a "abertura" deu azo à volta de personae non gratae e a criação de partidos "de esquerda", como o Partido dos Trabalhadores que não trabalham, dos estudantes que não estudam e dos intelectuais que não pensam e seus execráveis satélites.

Em 1988, sob efeito da formidável ressaca resultante de duas décadas de repressão, nossa nova Carta Magna foi recheada benefícios sem que a fonte dos recursos que os sustentariam fosse apontada, e trouxe a reboque uma política pública de produção de leis, regras e regulamentos divorciadas do mundo real e escritas para fomentar o crime e favorecer os criminosos. E como nada nunca é tão ruim que não passa piorar, o STF guindou esta banânia à condição de única democracia no mundo com 13 Poderes: O Executivo, o Legislativo e 11 ministros supremos que muito falam, pouco fazem e raramente se entendem.

Saliento que tenho o maior respeito pelo Supremo como instituição, mas não por seus membros, sobretudo na composição atual, que é a pior de todos os tempos, como comprovam a distribuição de habeas corpus em massa, a anulação de sentenças em processos onde réus delatados não apresentaram suas razões finais depois dos delatores (não existe absolutamente nada na legislação brasileira que dê suporte a esse entendimento absurdo), a reversão da jurisprudência sobre a prisão em segunda instância e, mais recentemente, a proibição liminar e monocrática do compartilhamento de informações pela UIF e Receita Federal com o MP e a PF sem prévia autorização judicial. Pelo menos esse jabuti deve cair da árvore, mas o julgamento vem se arrastando e só será concluído antes do recesso do Judiciário se os ministros que ainda não votaram deixarem de lado a poesia e se pronunciem de maneira clara e concisa — restam 8 sessões até o encerramento do ano judiciário ainda há 9 magistrados a votar.

Contribuiu para o Supremo se tornar um ninho de cobras a cizânia fomentada pelo maior câncer que já presidiu esta banânia e, ao deixar o posto, fez eleger a mãe de todas as calamidades, visando manter sua poltrona aquecida até que ele próprio pudesse voltar a ocupá-la, e foi graças à facção pró-crime dos togados que esse abjeto carcinoma retornou à atividade depois de passar 580 dias preso na sala VIP da Superintendência da PF em Curitiba, embora sua breve reclusão jamais o impediu de explorar politicamente sua situação, nem de transformar a cela em escritório político, sede de comitê de campanha, sala de entrevistas e por aí afora. Com a cara de pau que Deus lhe deu e demônio lustrou, a autodeclarada alma viva mais honesta do Brasil afirmou candidamente que a cadeia o transformou "numa pessoa melhor".

Horas depois do voto de minerva do eminente ministro Dias Toffoli, o sevandija vermelho subiu num palanque improvisado por apoiadores e, no melhor estilho "encantador de burros", destilou seu ódio contra Jair Bolsonaro, Sérgio Moro, a Lava-Jato; no dia seguinte, já em São Bernardo do Campo — para onde voou num luxuoso jatinho da empresa da empresa Brisair Serviços Técnicos Aeronáutica, pertencente ao casal de apresentadores globais Luciano Huck e Angélica —, repetiu a dose defronte ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e, na sequência, saiu em caravana Brasil afora para espalhar seu veneno.

Na capital de Pernambuco, seu estado de origem (num hotel de luxo da praia da Boa Viagem, o bairro mais chique da cidade, é claro), o cancro sifilítico petista levou ao delírio seus miquinhos amestrados com seguinte troçulho: “Eu não queria falar de política num festival cultural e eu queria assistir ao povo exaltar toda a sua ternura por esse país maravilhoso. Eu hoje sou um homem melhor do que aquele que entrou na cadeia, sou mais maduro, sou um homem que aprendi que nada derrota as pessoas que se amam nesse país. Nós não vendemos ódio, vendemos amor, paixão. É muito coração nessa história”.

Enfiado no fundo de um desses ônibus de luxo com vidro escuro para ninguém ver nada dentro, aprontava-se o morfético para partir rumo ao que, aparentemente, seria um compromisso de sua nova peregrinação pelo Brasil, com a qual imagina atrair as massas e voltar a ser o que foi um dia. Porém, em vez de ouvir o aplauso da multidão, ouviu o que tem ouvido sempre que sai à rua: “Lula, ladrão, teu lugar é na prisão”. Na verdade, não havia multidão nenhuma — só um grupo de gente vestida de verde e amarelo, mandando o ex-presidente para o raio que o parta. Sabe lá Deus — ou o Diabo? — onde estavam os milhares e milhões de “brasileiros do povo”, os “pobres”, os “desesperados” com o governo”, que deveriam ter aparecido para dar força ao ex-presidente. E isso no coração do Nordeste, onde Lula, com o apoio dos “institutos de pesquisa de opinião”, sempre diz que tem 120% de popularidade. Talvez seja melhor no interiorzão. Talvez não seja tão ruim da próxima vez. Quiçá o sofrido e inculto povo nordestino acorde e se dê conta de que precisa carregar Lula em triunfo. Mas ainda não rolou.

Pouco antes de ser preso, Lula teve uma das suas piores ideias — fazer uma “caravana” pelos estados do Sul. Acabou escorraçado de lá na base da pedrada. Precisa tomar cuidado para a história não começar de novo nas “caravanas” que tenciona fazer daqui por diante. Isso sem mencionar que, a caminho de novos e desconhecidos horizontes na política brasileira e mundial, pelo que se lê ou se ouve no noticiário, o safardana tem uma porção de obstáculos práticos pela frente. Há problemas com o Código Penal, com a lei eleitoral e com a não-capacidade do seu partido et caterva de aprovar leis no Congresso ou decidir votações na Câmara e no Senado. Será necessária uma assistência praticamente integral do STF para resolver encrencas que vão de seus próximos processos criminais à condição de político ficha suja — e, portanto, inelegível, pelo menos segundo o que está escrito hoje.

Como bem salientou J.R. GuzzoLula sabe que vai bombar nas próximas sondagens de “intenção de voto”, “popularidade”, “imagem”, etc. encomendadas aos Ibopes e Datafolhas por uma dessas confederações nacionais de alguma coisa que você encontra em qualquer esquina. Já deve saber, também, que os especialistas em algoritmos têm números imensos sobre a sua presença nas redes sociais. Nos últimos doze meses, apesar de todos os pesares a “tração” do presidente Jair Bolsonaro foi mais de 40 vezes maior que a dele. Nas 72 horas seguintes ao seu alvará de soltura, o chefe do quadrilhão vermelho teria passado à frente do inimigo, mas os números dos institutos são sempre uma revelação sobrenatural, e o próprio Lula já se acostumou há muito tempo a não colocar a mão no fogo, nem perto, em relação a eles. Quanto ao algoritmo que mede a capacidade de um agente digital propagar em ondas sua circulação na internet, o problema é o seguinte: estão falando muito de mim, mas estão falando bem ou mal? Essa vida é mesmo complicada.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

SÓ FALTA MORRER PRA CANONIZAR... AMÉM



A composição do STF, que nunca foi grande coisa, ficou pior depois que Lula e Dilma fizeram oito nomeações. Mas nem todos os indicados pela parelha vermelha vestiram a toga por cima da farda. Tanto é assim que 3 dos 6 votos responsáveis pelo formidável coice que levamos na última quinta-feira foram proferidos por apaniguados dos ex-presidentes Sarney, Collor e FHC.

Sempre me chamou a atenção a obstinação dos garantistas de araque pela restauração do entendimento que vigeu durante míseros 7 anos das últimas 8 décadas. Aliás, antes da decisão da semana passada, a possibilidade da prisão após condenação em segunda instância foi debatida nada menos que três vezes nos últimos 4 anos — e mantida todas as vezes, ainda que por estreitíssima maioria. 

Irresignada, a ala vencida moveu mundos e fundos para rediscutir o tema tantas vezes quantas fossem necessárias para faze a balança pender pro seu lado, como os dois amigos que disputam no par ou ímpar quem paga a cerveja e o mau perdedor insiste em jogar de novo até sair vencedor. Mas o mais curioso é Gilmar Mendes perorar que (agora que ele conseguiu o que queria) o novo entendimento deve vale per omnia saecula saeculorum, como se a decisão tivesse sido tomada por unanimidade.    

O primeiro beneficiado suprema comédia foi justamente aquele em favor de quem se armou toda a fraude jurídica encenada nos últimos meses. Toffoli nem bem havia acabado de cuspir na cara dos brasileiros e seu ex-patrão já deixava voltava para São Bernardo a bordo do luxuoso jatinho comprado em 2013 por R$ 17,7 milhões pela empresa Brisair Serviços Técnicos Aeronáutica, do casal de apresentadores globais Luciano Huck e Angélica.

Com a decisão tomada pela facção pró-crime do STF — por maioria de um único e miserável voto dado justamente por um ex-funcionário do partido que mais roubou na história brasileira —, a utilização da incomparável coleção de privilégios oferecidos pela lei brasileira a réus da elite, que roubam e pagam chicaneiros de luxo com o dinheiro roubado, volta a permitir que essa caterva fique fora da prisão enquanto o dinheiro não acabar. Mas isso não quer dizer que essa gentalha voltou a dar as cartas. Podem estar soltos e rindo da cara dos 200 milhões de otários que precisam trabalhar para ganhar a vida — mas para roubar de novo precisam estar no governo, e no momento eles não estão no governo.

O essencial neste país, onde seis ministros da mais alta corte de justiça trabalham oficial e descaradamente em favor dos criminosos cinco estrelas, deixou de ser a luta contra a sua impunidade perpétua. O que realmente importa, pelo menos agora e no futuro imediato, é impedir que seja retomado o processo de privatização do Estado em benefício de um partido político, do mundo que gira em torno dele e dos magnatas que compram os seus favores. Esta distribuição geral do bem público para indivíduos, interesses e grupos privados vigora no Brasil desde sempre – mas nunca foi praticada de maneira tão aberta e tão agressiva como nos governos do presidente Lula e de sua sucessora.

Com J.R. Guzzo

terça-feira, 29 de outubro de 2019

LULA LÁ — RESTA SABER ONDE



Como sabem os que acompanham a vergonhosa política tupiniquim, o ex-presidente que institucionalizou a corrupção no Brasil em prol de si próprio e dos seus, e está preso desde abril do ano passado, pode ser libertado graças a leis criadas sob medida para favorecer criminosos e a uma Justiça cega, surda, muda e tetraplégica: Lula já cumpriu um sexto da pena a que foi condenado no caso do tríplex — que o STJ reduziu de 12 para 8 anos —, o que o habilita a "progredir de regime" para o semiaberto, no qual os presos dormem na cadeia e saem durante o dia para trabalhar.

Porta-voz do lema “Nunca antes neste país”, o parteiro do Brasil Maravilha é o ineditismo em pessoa. Maior beneficiário do  "escândalo do Mensalão" — esquema criminoso que durante anos subornou parlamentares com dinheiro subtraído do Banco do Brasil e resultou na prisão de mais de uma dezena de divindades do panteão lulopetista —, o capo di tutti i capi não só escapou ileso da ação penal 470 (não foi sequer denunciado) como se reelegeu e terminou o segundo mandato com a popularidade nos píncaros.

Tamanha popularidade permitiria ao sumo pontífice da seita do inferno eleger o próprio Cão para manter aquecida a poltrona presidencial até que ele pudesse voltar a ocupá-la. Todavia, o Mensalão deixara os "cumpanhêros" Dirceu e Palocci temporariamente indisponíveis, e assim o encantador de burros resolveu vestir uma incompetente de quatro costados com a roupagem de "gerentona-mãezona" e convencer a récua militante a votar nela. Em outubro de 2010, essa anta sacripanta derrotou o cemitério de egos tucano, que teve José Serra como representante da vez.  Em janeiro do ano seguinte, a candidate eleita arroganta e pedanta subiu a rampa do Planalto como a primeira mulher-presidente desta republiqueta de bananas; mais adiante, não se sabe exatamente quando, a calamidade em forma de gente foi picada pela mosca azul e passou a "fazer o diabo" para se reeleger — afinal, nem mesmo ela seria capaz de afundar esta Nau dos Insensatos em apenas 4 anos.

Em 2014, graças ao maior estelionato da história desta banânia, a Bruxa Má do Oeste derrotou o tucano Aécio Neves (por uma vantagem de 3% que muita gente atribui a urnas eletrônicas com opinião própria e tendências esquerdistas). Fosse outro o resultado e teríamos trocado um diabo conhecido por sua versão dissimulada: como se veio a saber mais adiante, o mineirinho safo, por fora, era "bela viola", mas por dentro era "pão bolorento".

Dilma foi penabundada do Planalto e em 2016 e, graças à Lava-Jato, tornou-se ré no processo do Quadrilhão do PT, enquanto seu infame criador responde a 9 ou 10 ações penais, já foi condenado em duas e está cumprindo a pena que lhe foi atribuída na primeira dela pela terceira instância do Judiciário tupiniquim (vide parágrafo de abertura).

De todos os investigados no esquema do Petrolão, o demiurgo de Garanhuns foi o único a causar impacto quando alvo de operações de busca por documentos em sua residência e a provocar comoção por ocasião da condução coercitiva para prestar depoimento em processos na Lava-Jato. Dada a sua popularidade, fizeram-se as previsões mais tenebrosas sobre as possíveis consequências do tratamento que lhe foi conferido pela PF e pelo MPF. Mas nada aconteceu então, nem quando da decretação de sua prisão após a condenação em segunda instância no caso do tríplex — uma gentil oferenda da empreiteira OAS

Tornou-se a falar em revolta popular em seguida, à luz dos fatos circunscrita às imediações do Sindicato dos Metalúrgicos de SBC e depois ao acampamento no entorno da sede da PF em Curitiba, mas, de novo, nada aconteceu. Agora, enquanto o STF rediscute a prisão após condenação em segunda instância e, segundo os alarmistas de plantão, pode anular a condenação no caso do tríplex, voltam à cena tais conjecturas, agora sobre o papel a ser exercido pelo Redentor dos Miseráveis na política, em particular sua influência nas disputas de 2020 e 2022.

Dora Kramer salienta que a pesquisa Veja/FSB, publicada na edição impressa de Veja da semana passada, mostra o ex-presidente petralha como o nome eleitoralmente mais viável entre os antagonistas de Bolsonaro localizados à esquerda, não por ser o mais forte, mas o único nesse campo capaz de competir em boa situação. Algo que para Bolsonaro seria a composição dos sonhos numa campanha, para repetir o enfrentamento que o levou à Presidência. Mas a realidade é um tanto diferente do mundo dos números de pesquisas colhidas quando ainda há um volume oceânico de metros cúbicos a passar por baixo da ponte e inúmeros obstáculos a ser superados antes de se considerar de maneira racional Lula como uma força real e objetiva, para além da mitologia.

Mesmo que saia da sala da PF em decorrência da derrubada da prisão depois da segunda instância, Lula continuará inelegível. Ficha eleitoral limpa, só no caso de o STF anular a sentença de Sergio Moro no processo do tríplex.  vista as demais ações (9 ou 10, já nem sei direito) desautorizam maiores otimismos, já que sua tramitação pode novamente suprimir a liberdade do réu e/ou a elegibilidade daquele que ainda sonha em voltar a conspurcar com sua imundície a poltrona presidencial.

Passando ao universo da política e dos fatos, no qual o petista terá de transitar depois de libertado, é justamente nesse mundo que ele já não transitava bem muito antes da prisão e desde que se agravou sua situação na Justiça com repercussão na política. Há muito não frequentava — nem falava em — ambientes que não fossem de convertidos ao seu altar do petismo mais exacerbado. Entrevistas, só para simpatizantes. Circular em público, nem pensar.

De uma pessoa tão importante e querida seria de esperar que andasse por aí a desfrutar a popularidade, mas nunca se viu Lula em restaurantes, cinemas, teatros, aeroportos nem em estádios em jogos de seu amado futebol. Incomparavelmente menos festejado nas pesquisas, Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, vai a todo lugar e fala em toda parte sem restrições desde que deixou a Presidência.

E o discurso do Lula-Livre, será como disse outro dia o do pacificador? Incongruente com a autoria da dinâmica do “nós contra eles”, cuja consequência tem hoje assento no Palácio do Planalto. Preso, pode exercitar a intransigência típica dos carismáticos. Quando exige absolvição total soa convicto, algo a ser lido como “ele deve ter razão”. Solto, terá de se ver com a realidade, por vezes uma madrasta.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

BRASIL - UM PAÍS QUE VAI PRA ONDE?



Depois que Marco Aurélio concluiu a leitura de seu relatório sobre as ADCs do PEN, da OAB e do PCdoB e, como esperado, votou contra os interesses dos cidadãos de bem deste país, Alexandre de Moraes abriu a dissidência, sendo seguido por Edson Fachin e Luís Roberto Barroso. Como já passava das 18h30 e Toffoli deveria comparecer ao lançamento de um livro em homenagem a seus 10 anos no STF, a sessão foi suspensa.

Os trabalhos serão reiniciados às 14h00 desta quinta-feira, quando votarão os demais ministros, começando por Rosa Weber. Se ela acompanhar  Moraes, Fachin e Barroso e não houver nenhum acidente de percurso, a jurisprudência atual será mantida, ainda que (mais uma vez) com a diferença de um voto. Já se Rosa acompanhar o relator, é possível que alguém peça vista ou que Toffoli ou outro ministro coloque em mesa uma sugestão alternativa, como a de estabelecer a condenação pelo STJ como marco delimitador do início do cumprimento da pena. Mas isso é tudo especulação.

Depois de Rosa, votam Fux, Cármen, Lewandowski, Gilmar, o decano e o presidente da Corte — que, devido a um compromisso qualquer, propôs que a sessão transcorra sem intervalos e seja adiada pouco antes das 18h00. Se assim se der e considerando que cada voto demora mais ou menos uma hora, Celso de Mello e Dias Toffoli só proferirão os seus no início do mês que vem, já que até lá não haverá sessão no STF. Mas, de novo, tudo depende da ministra Rosa. Se ela votar pela mantença da jurisprudência atual, o resultado estará delineado e Lewandowski e Gilmar poderão resumir seus votos, pois estender as argumentações a favor do trânsito em julgado será o mesmo que chutar cachorro morto. A ver.

Como o STF não é o único responsável pelas úlceras gástricas que acometem os cidadãos de bem desta Banânia, seguem algumas linhas sobre o encerramento da novela da Reforma da Previdência no Senado:

Por iniciativa do presidente da Casa, Davi Alcolumbre, coube ao senador petista Paulo Paim a honra e o privilégio de anunciar a conclusão do processo legislativo — coisa que o sempre espirituoso Josias de Souza comparou a dar ao Coringa o papel de protagonista numa festa promovida pelo Batman. Mas vale lembrar que nesta banânia, onde existe o risco de criminosos notórios serem soltos e os procuradores que os investigaram e os magistrados que os condenaram acabarem todos na cadeia, isso não chega mesmo a surpreender.

Enfim, depois de muita conversa, aprovou-se uma emenda de Paim que permite a concessão de aposentadorias especiais a trabalhadores que exercem atividades de risco. Foi a última proposta a ser votada. Alcolumbre chamou o colega petista à mesa, cedeu-lhe o assento de presidente da sessão e exortou-o a anunciar o resultado da votação: 78 votos a favor, nenhum contra.

Seguiu-se um longo discurso do petista, que não chegou a ecoar o líder do PT, Humberto Costa, que escalara a tribuna na véspera para atacar a reforma e chamar o ministro Paulo Guedes de "verdugo do povo pobre brasileiro, discípulo de Pinochet, que quer aqui no Brasil aquilo que foi feito lá [no Chile] e está fazendo aquele país viver um ambiente de incerteza e crise social". Mas teve a oportunidade de declarar coisas assim: "Estou muito triste com o que está acontecendo no Chile, onde o presidente da República pediu perdão ao seu povo".

O senador petista recordou que a proposta original do governo continha o modelo de capitalização à moda do Chile. "O Congresso disse não", realçou Paim. "O sistema não deu certo. E o Brasil não pode copiar o que não deu certo". Animado com o acordo firmado em torno de sua emenda, Paim animou-se a mandar um recado para o presidente desta Banânia: "Oxalá o exemplo que o Senado deu hoje sirva também para o outro lado da rua". Sem mencionar nominalmente Bolsonaro, o senador vermelho reforçou estereótipos associados à imagem do capitão: "É possível, sim, que a gente tenha um país onde se olhe de forma igual para negros, brancos, índios, independentemente da religião e orientação sexual de cada um."

Ao final do discurso, sua excelência petista recebeu uma salva de palamas e a sessão foi encerrada sem que Alcolumbre retomasse o assento de presidente. Paim, que chegou a questionar a existência de déficit na Previdência, deu a última palavra no epílogo da tramitação legislativa da mais abrangente mexida previdenciária feita no Brasil. Ao se levantar, Fernando Bezerra, o líder de Bolsonaro no Senado, assim saudou o arquirrival da reforma da Previdência: "Presidente Paim".

É mole?

domingo, 20 de outubro de 2019

O SUPREMO SUSPENSE E O SEGREDO DE POLICHINELO — SEGUNDA PARTE



Erga omnes ou não, e a despeito do sentido em que o vento soprar, a decisão que o STF deve tomar nesta semana pode ter vida curta, a depender de quem virá a ocupar a vaga do decano da Corte, que se aposenta no ano que vem, e de Marco Aurélio, o relator das nefastas ADCs do PEN, da OAB e do PCdoB que motivaram a rediscussão da prisão após condenação em segunda instância pela quinta vez desde 2016, que pegará o boné em 2021 (já vai tarde; que Deus o leve, guarde e esqueça onde).

Para quem não se lembra, esse primo de Collor — e cuja filha foi nomeada desembargadora por Dilma, por indicação do ex-governador fluminense Sérgio Cabral — moveu mundos e fundos para pressionar Cármen Lúcia a pautar o julgamento das tais ADCs (a ministra resistiu, alegando que rediscutir o tema novamente seria apequenar o tribunal). Cármen deixou a presidência do STF em setembro do ano passado, mas Toffoli, que a sucedeu no posto, vinha empurrando a coisa com a barriga desde que assumiu o posto.

Em dezembro passado, no apagar das luzes do ano legislativo, Marco Aurélio concedeu uma liminar que abria as portas das celas de Lula e de outros 170 mil condenados em segunda instância que aguardam presos o julgamento de seus recursos as instâncias superiores. Toffoli suspendeu o desvario do colega, que, rancoroso, desde então perde a chance de alfinetá-lo. Na sessão da semana passada, disse o ministro dos tempos estranhos: “É inconcebível visão totalitária e autoritária no Supremo. Os integrantes ombreiam, apenas têm acima o colegiado. O presidente é coordenador e não superior hierárquico dos pares. Coordena, simplesmente coordena, os trabalhos do colegiado. Fora isso é desconhecer a ordem jurídica, a Constituição Federal, as leis e o regimento interno, enfraquecendo a instituição, afastando a legitimidade das decisões que profira. Tempos estranhos em que verificada até mesmo a autofagia".

Já que falamos em Collor, custa-me acreditar que um sujeito que se elegeu presidente empunhando a bandeira de "caçador de marajás" e que renunciou às vésperas do julgamento do impeachment (por suspeitas de corrupção) continua na vida pública como senador. Como se isso não bastasse, o autodeclarado "homem macho de colhão roxo" é alvo de 7 inquéritos no STF,  réu em pelo menos uma ação criminal e alvo da Operação Arremate da PF, que mira um esquema de lavagem de dinheiro em Maceió e Curitiba.

A única explicação que me ocorre para tamanho descalabro é a péssima qualidade do eleitorado tupiniquim, que parece se aprimorar a cada eleição. Basta lembrar que, na última, essa formidável confraria de desaculturados convocou para o embate final justamente os dois extremistas mais extremados do espectro político-partidário, obrigando a parcela da população minimamente capaz de raciocinar a apoiar o Capitão Caverna para impedir a volta do PT.

Observação: Pensando bem, de um povo que votou no rinoceronte Cacareco (em São Paulo, nas eleições para vereador de 1959) e no Macaco Tião (no Rio, para prefeito em 1988) e ainda vê no criminoso Lula a solução para os problemas do Brasil (que esse molusco asqueroso só se tornará quando nos fizer a gentileza de vestir o pijama de madeira e ir comer capim na chácara do vigário ou na ponte que o partiu), não se poderia mesmo esperar porra nenhuma!

Ainda que na lista de postulantes à presidência (falo da eleição passada) houvesse mais aberrações  cabo Daciolo, Vera Lúcia, Guilherme Boulos, Marina Silva, Eymael e outros fugitivos da feira de horrores (aí incluída a vice na chapa do bonifrate do presidiário de Curitiba) ― do que possíveis soluções, não custava nada experimentar algo novo, como João Amoedo, Henrique Meireles ou Álvaro Dias. Queira Deus que em 2022 tenhamos candidatos "menos ruins", que não nos deixem novamente entre a cruz (leia-se Bolsonaro) e a caldeirinha (leia-se o fantoche que Lula escalará para disputar o pleito). Embora faltem 3 anos, o "mito" dos ignorantes, que, dentre outras promessas de campanha ficaram na campanha, prometeu acabar com a reeleição, já é candidatíssimo a mais quatro anos de reinado. Faz-me lembrar de Dilma, que, de olho em 2014, deixou de governar o país (se é que algum dia governou alguma coisa) para, numa segunda gestão, terminar de destruir a economia tupiniquim.

Voltando ao ministro Marco Aurélio, sua trajetória é um exemplo lapidar de como o patrimonialismo não só atravessou incólume todas as tentativas de superá-lo, mas acentuou suas imperfeições e demoliu a reputação de seus agentes. Seu pai, Plínio Affonso de Farias Mello, é até hoje reverenciado no ambiente do sindicalismo patronal como uma espécie de benemérito — seu prestígio era tamanho que o general Figueiredo, último presidente do regime militar, manteve aberta uma vaga no TRT-RJ para que o filho Marco a assumisse quando completasse 35 anos. Foi também graças ao prestígio paterno que ele foi guindado ao TST, em Brasília, onde o primo Fernando Affonso Collor de Mello o encontraria mais adiante e cobriria com a suprema toga.

Desde junho deste ano, quando Verdevaldo despejou o primeiro caminhão de merda sobre Moro e a Lava-Jato, esse luminar do saber jurídico vem destilando seu veneno contra o atual ministro da Justiça — talvez por ciúmes ou despeito, já que jamais conseguiu em seus quase 30 anos no supremo uma mísera fração do protagonismo e aprovação popular que o ex-juiz federal conquistou à frente da 13ª Vara Federal do Paraná. Na verdade, Mello sempre teve predileção por ser voto vencido, e foi a encarnação do “espírito de porco” até Dilma nomear desembargadora sua filha Letícia, em mais uma demonstração de como o nepotismo se perpetua. A partir daí, o campeão das causas perdidas abraçou cruzadas que atendem aos interesses dos petistas e dos nababos da advocacia de Brasília — que, de olho no filão milionário que os corruptos representam, defendem incondicionalmente a mudança da jurisprudência que autoriza a prisão de condenados em segunda instância. O resto é conversa mole para boi dormir.

Observação: Para não repetir o que eu já disse sobre a atual composição do Supremo ser a pior de todos os tempos, sugiro a quem interessar possa reler este post e o seguinte. Mas volto a dizer que a solução não é fechar o tribunal, como defendem alguns extremistas (recomendo assistir ao clipe que eu inseri no final desta postagem).

É nas mãos de decisores desse quilate, comandados pela eminência parda que Augusto Nunes chama de Maritaca de Diamantino e presididos por ninguém menos que Dias Toffoli, cujo currículo é abrilhantado por duas reprovações em concursos para juiz de primeira instância e pelos bons serviços prestados a Lula e ao PT (como advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de SBC, do partido e das campanhas do molusco, bem como consultor jurídico da CUT, ajudante de ordens do criminoso condenado José Dirceu e Advogado Geral da União), o eminente ministro não despiu o uniforme de militante quando vestiu a suprema toga em 2009, mais uma vez graças a Lula e com suas bençãos — mais uma demonstração cabal da falta de noção do criminoso de Garanhuns sobre a dimensão do cargo de ministro.

Sem currículo, sem conhecimento, sem luz própria e sem os laços com a rede protetora do partido o recém empossado ministro Antonio Dias Toffoli sem foi buscar apoio em Gilmar Mendes Ferreira, que é quem melhor encarna a figura do velho coronel político. Já consolidado no habitat, o ex-advogado de Lula passou a emular os piores hábitos do novo padrinho a arrogância incontida, a grosseria, a falta de limites, o uso da autoridade da forma mais arbitrária possível. O próprio Lula, certa feita, pegou-o pelo braço em um evento em Brasília e quis saber sobre a relação íntima entre ele e Gilmar — uma amizade outrora impensável. 

Medes, espertamente, viu em Toffoli um possível aliado e, aos poucos, foi ganhando sua simpatia — ao mesmo tempo em que lhe apresentava as gostosuras do poder, ajudava-o a ampliar sua rede de contatos e lhe mostrava como fazer para valorizar a caneta que lhe foi conferida pelo demiurgo de Garanhuns. Recentemente, depois que as mulheres de ambos entraram na mira de um grupo especial da Receita Federal que investigava possíveis fraudes tributárias em suas atividades profissionais, a amizade virou uma aliança estratégica e se somou aos interesses dos amigos dos dois ministros, um oriundo das hostes petistas e outro alinhado aos tucanos e emedebistas. E assim se abriu uma janela de oportunidade para transformar a agenda do Supremo em instrumento para enfraquecer a Lava-Jato.

Amanhã eu conto o resto.